A crise que assola o país após a pandemia escancarou a vergonhosa desigualdade socioeconômica do Brasil e suscitou a necessidade de uma articulação solidária e racional para corrigi-la. Um novo ciclo de crescimento somente será sustentado se for inclusivo. No final deste ano, veremos que a economia não cresceu na última década, a renda per capita está menor do que era em 2010, e a desigualdade aumentou. Triste realidade.
Como consequência, generaliza-se a ideia de que a porteira para os gastos públicos foi aberta, bem ao gosto dos políticos. O governo deve gastar à vontade para estimular o crescimento, sem considerar quer o déficit entre receitas e despesas do governo, quer a ineficácia das políticas públicas. Se o governo não tem recursos, bote a Casa da Moeda para emitir dinheiro. Ah, se fosse simples assim.
Não foi o governo Bolsonaro quem causou essa crise, mas é, sim, sua responsabilidade enfrenta-la, agindo com competência e coerência. Na gestão fiscal, seu principal desafio nos próximos anos será conciliar o limite do teto de gastos com um programa de transferência de rendas para a população mais carente. Seu sucesso dependerá da superação da dualidade racionalidade-irracionalidade que divide seu governo.
A conjunção do estilo beligerante de Bolsonaro com a reação de seus opositores ocupa o tempo integral da mídia, não permitindo à população conhecer o que de racional anda acontecendo no interior do governo.
A racionalidade está, por exemplo, na atuação do Banco Central, que deu continuidade à estratégia iniciada no governo Temer. Mantém as taxas Selic e de juros de longo prazo em seus níveis mais baixos e implementa uma pauta inovadora (Agenda BC#) para renovar o sistema financeiro, sob quatro pilares: inclusão, competitividade, transparência e educação. Merecem destaques os programas Open Banking, que busca um sistema financeiro mais aberto e mais competitivo, e PIX, que permitirá ampla realização de pagamentos instantâneos, ambos baseados nas inovações digitais. Garantindo a transparência de suas ações, o Banco Central ganha confiança do mercado e incentiva novos investimentos privados no país.
A irracionalidade está no lado atrasado do governo, que ainda não entendeu que a cédula impressa em papel é hoje parte insignificante das transações financeiras, realizadas eletronicamente; irracionalidade está – vejam só – no Ministério da Economia. que pretende tributar logo o esforço de competitividade que o Banco Central está fazendo; irracionalidade está no grupo que quer ressuscitar os governos Geisel e Dilma, fazendo um programa de investimentos com recursos públicos inexistentes.
Bem que Bolsonaro poderia ter um surto de racionalidade aplacando a sanha do obscurantismo no seu governo, assim evitando que o desgoverno seja o seu legado. Poderia, então, entregar um Brasil melhor, mais próspero e mais justo.