PAULO PAIVA

FHC novent’anos

Trajetória política e acadêmica de ex-presidente destacada em seu aniversário


Publicado em 18 de junho de 2021 | 03:00
 
 
 
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Com o lançamento da “Lira dos cinquent’anos” consolidou-se a maturidade da poesia modernista de Manuel Bandeira, que, abandonando as suas circunstâncias, seus motivos objetivos, com esse livro atingiu a plenitude da liberdade, como observou Wilson Castelo Branco.

Para celebrar, hoje, seus 90 anos, Fernando Henrique nos convida a reviver suas memórias, percorrendo com ele nas páginas de seu livro “Um Intelectual na Política” as trilhas que o levaram às suas carreiras, acadêmica e política.

O encontro do acadêmico com a realidade do Brasil e da América Latina está presente no centro de seus criativos e instigantes estudos sobre o capitalismo. Combinando a análise dialética marxista com pesquisa empírica, sob a orientação de Florestan Fernandes, em sua tese de doutorado, FHC constatou o uso do trabalho escravo no desenvolvimento capitalista no Sul do Brasil. Combinação imaginada improvável nas análises puramente histórico-estruturalistas.

Mais tarde, coerente com sua formação acadêmica, o presidente FHC voltou ao tema, quando criou no seu primeiro mandato um programa, que tive a honra de liderar no Ministério do Trabalho, para a erradicação de formas contemporâneas de trabalho escravo, e que foi posteriormente objeto do premiado longa “Pureza”, de Renato Barbieri.

De grande relevância foram também suas críticas às visões histórico-determinísticas na tradição marxista, ao comprovar o desenvolvimento dos países periféricos, evidenciado pelas relações entre as elites empresariais locais e as forças indutoras do crescimento no centro do sistema capitalista.

Sua formação acadêmica e seu idealismo, germinado de sua indignação com a desigualdade e a injustiça, o levaram para a atividade política, juntando-se aí aos ativistas que, à época, tinham como meta a reconquista da liberdade e da democracia. Em tempos tão sombrios, esse encontro não foi obra do acaso, mas a fusão natural do acadêmico com o político.

A atividade política intensa, por seu lado, contribuiu para o amadurecimento do intelectual. A experiência na condução do país – execução do Plano Real, das privatizações, da inserção comercial e financeira no mundo globalizado, do respeito à liberdade e a defesa dos direitos humanos – consolidou sua rejeição às visões e às práticas extremas, do Estado corporativo e intervencionista, de um lado, e da supremacia do mercado, de outro.

Após essa longa caminhada, creio, FHC chegou à concepção contemporânea de Bobbio de liberalismo social. Liberdade individual e equidade como os pilares de sustentação simultânea da democracia e do mercado, visando ao bem comum.

Desejo que o presidente Fernando Henrique Cardoso rompa com suas circunstâncias e, na plenitude de sua liberdade, use seu conhecimento e sua experiência para formar novas gerações de políticos. Vida longa, presidente.

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