Paulo Paiva

(In)feliz ano (velho) novo

Fazer um balanço do velho e depositar esperanças no novo


Publicado em 31 de dezembro de 2021 | 08:09
 
 
 
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Ao escrever minha última coluna do ano, sinto-me sempre impelido a fazer um balanço do velho e depositar minhas esperanças no novo.

Hoje, decidi visitar o que publiquei nos últimos três anos, na tentativa de encontrar algum fio condutor que me levasse de um ano ao outro nesses tempos tão conturbados. Nesse exercício, acabei por revelar meu sentimento em relação aos governos eleitos neste século.

Em 26.12.18, na coluna intitulada “Com suas incertezas e ambiguidades, 2018 insiste em continuar”, a ideia central foi a percepção de que os problemas da administração Temer continuariam no próximo governo, que se iniciaria logo no primeiro dia do ano entrante. Meu otimismo esperançoso me fez concluí-la com o desejo de “que o presidente Bolsonaro e sua equipe tenham bom senso e generosidade governando desarmados e com espírito público, para que as incertezas e ambiguidades de 2018 não retardem o futuro que o país deseja e espera”. Ingênuo engano.

No final do primeiro ano de Bolsonaro, mirei na vizinha Argentina, que acabara de devolver o poder ao Partido Justicialista, elegendo Alberto Fernandez para presidente. Na minha coluna do dia 27.12.19, “Choro por ti, Argentina”, descrevi a festa de Natal naquele país: “Neste ano, na ceia de Natal da típica família argentina, não houve sonhos nem esperanças; mais uma vez estavam servidas à mesa tristeza, desilusão e incertezas, pois o presente do novo governo ao país em crise foi a surrada estratégia malsucedida de outros tempos”. A população tem suas razões para não acreditar no governo, seja lá qual for. Presságio do efeito Orloff?

No primeiro dia deste ano (1.1.21), minha coluna indagava: “2020 mais um ou mais um 2020?” No seu final, assinalei que o ministro Lewandowski, do STF, havia liberado para os advogados de ex-presidente Lula o acesso aos arquivos hackeados da Lava Jato. E ousei prever “não é difícil supor o impacto explosivo dessa decisão na política, com possível revisão das decisões que condenaram o ex-presidente, podendo, inclusive, torná-lo elegível em 2022”. Triste antevisão.

O fio que teceu minhas palavras, ano após ano, foi o envelhecido e descorado populismo sul-americano. Restou a desilusão do amargo sentimento de que estamos regredindo na politica e na economia. Independente de quem governa, prevalecem o ódio e as velhas ideias e práticas. A polarização Bolsonaro-Lula sugere uma campanha de agressões, do vale tudo, sem propostas para a recuperação do país.

Portanto, o que se oferece como novo para a ceia de 2022 nada mais são do que os mesmos pratos apodrecidos e mal requentados dos últimos vinte anos. E a pandemia continuará ano adentro. Triste assim.

No entanto, em 2022 o Brasil comemorará seus 200 anos de independência. Por que não sonhar com a ruptura, pelo voto popular, da dependência do país ao populismo?

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