Levanto minha voz, que Minas me chama. Não trato com frequência do meu Estado neste espaço. Não que me cale, mas preservo minha opinião para momentos graves. Evito a vulgaridade. Espero ouvir minha voz ecoar.
Minas está em chamas. Não que arda em fogo o que restou de sua Mata Atlântica; não que as retorcidas árvores do Cerrado estejam em brasas, mas porque em chamas estão suas finanças públicas. Minas vive sua crise fiscal mais profunda, e as políticas públicas estão sendo arruinadas. Muitos desses impactos são irrecuperáveis, como nos doentes que sofrem sem atendimento na rede pública de saúde; ou na insuficiência de aprendizado adequado, que compromete o futuro das crianças; ou nas jovens vidas interrompidas pela violência incontrolável nas cidades. 

A arrecadação disponível para o Poder Executivo cumprir suas obrigações é menor do que suas despesas. Toda manhã o governo vive sua escolha de Sofia. Quem não pagar hoje? Portanto, cresce todo mês o déficit público, aumentando mais ainda a elevada dívida para patamares que tornarão o Estado insolvente. Assim, no futuro não muito longínquo o poder público acabará em cinzas. 

O cumprimento da obrigatoriedade constitucional para repassar parcela da receita em duodécimos para os outros Poderes compromete 12,5% da receita líquida. Na Federação, Minas é o Estado que mais gasta em volume com o Legislativo (R$ 1,5 bilhão/ano) e que tem a maior proporção de gastos da receita líquida com os tribunais de Justiça (5,3%). Os custos do desequilíbrio recaem sobre os servidores do Executivo e sobre a população que mais precisa das políticas públicas. As consequências da crise não são equânimes entre os Poderes.

Minas Gerais já ultrapassou o limite máximo de gasto com pessoal em relação à receita corrente líquida, fixado em 60% na Lei de Responsabilidade Fiscal, e que chega a 80%. Os gastos do Tesouro Estadual para financiar a Previdência Social de todos os Poderes cresceram 46%, de 2015 a 2018, evidenciando a insustentabilidade desse sistema.

O Tesouro Nacional avalia a capacidade de pagamento de Minas como a pior, entre todos os Estados, incluindo o Distrito Federal. Minas recebeu a vergonhosa nota D.

Para dificultar mais ainda sua adesão ao Plano de Promoção do Equilíbrio Fiscal do governo federal, única via que sobrou para recuperar suas contas, há a barreira criada pela Emenda Constitucional 50 à Constituição estadual, que estabeleceu a necessidade de 3/5 dos votos dos deputados para a privatização de empresas estatais e, no caso da Cemig e da Copasa, também da submissão da decisão parlamentar a referendo popular.

Minas pede socorro a seus filhos. Só restam a solidariedade e os esforços da sociedade e do governo, unidos sem temor pelo Estado, pela recuperação do seu setor público.

Sem ajuste fiscal para conter as chamas que abrasam Minas, não haverá vencedor, todos perderão.