PAULO PAIVA

Minas: palco minado da batalha eleitoral deste ano

Cinco meses antes, principais generais estão sangrando


Publicado em 02 de maio de 2018 | 03:00
 
 
 
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Minas Gerais vem tendo papel central nas disputas presidenciais nas últimas três décadas, desde o fim do regime de exceção, em 1985. 

Último mineiro eleito presidente, Tancredo Neves foi abatido pelo destino nas vésperas de sua posse. Depois veio a fase dos vices. Fernando Collor buscou em Minas o seu vice-presidente. Flertou com Márcia, filha de JK, e com Hélio Garcia, ficando por fim com Itamar Franco, que o sucedeu após seu afastamento. 

Lançada a candidatura de Fernando Henrique, Itamar Franco quis emplacar Hélio Garcia como vice. No encontro com Itamar e José Aparecido no Palácio do Planalto, o governador de Minas, elegantemente, declinou do convite que lhe fez o presidente Itamar. Fernando Henrique já havia decido por um vice do PFL do Nordeste.

Lula, depois de três reveses nas eleições anteriores, em 2002 veio buscar em Minas o empresário José Alencar para ser seu companheiro de chapa. O mineiro foi fundamental para ampliar a base eleitoral de Lula não só no seu Estado natal, mas também na classe média moderada. José Alencar acompanhou Lula em suas duas conquistas, quando a vitória do PT sobre o PSDB, no segundo turno, foi maior em Minas do que no agregado do país. Em 2002, aqui em Minas, para cada voto de Serra, Lula obteve o dobro e, no Brasil, Lula chegou a 1,6. Em 2006, embora a diferença no âmbito nacional tenha se reduzido a 1,2 votos, em Minas, para cada voto em Alckmin foram 1,9 votos para Lula. Em 2010, com Dilma candidata do PT e Serra do PSDB, as diferenças diminuíram mais em Minas. No país e aqui, para cada voto de Serra, Dilma somou 1,4. Enfim, em Minas, a vitória do PT nessas três eleições foi muito expressiva.

Vale registrar que nessas disputas, o eleitorado mineiro votou majoritariamente no PT para presidente e no PSDB para governador, levantando suspeitas de um possível acordo mineiro não explícito, evitando o confronto entre os dois grupos políticos rivais, o que somente viria a ocorrer quando Aécio disputou com Dilma a Presidência. Em 2014, o PT manteve sua tradição vitoriosa em Minas, embora com diferença menor (1,1 voto), e conquistou, também, o governo estadual, depois de longa hegemonia tucana.

Agora, a batalha em Minas será decisiva para as pretensões dos dois grupos na disputa presidencial. No entanto, cinco meses antes das eleições, estão seus principais generais sangrando. No campo tucano, que tem a árdua luta para reconquistar Minas, seu líder maior, Aécio Neves, foi declarado réu pelo STF, e outro ex-governador, Eduardo Azeredo, já fora de combate, teve sua condenação reconfirmada pelo TJMG. São dois ex-presidentes nacionais do PSDB marcados por ilicitudes.

No campo petista, seu governador terá que buscar reunir sua base parlamentar para barrar recente processo de impeachment. O afastamento do governador deve ser avaliado não pelas presumíveis causas legais ou pela possibilidade de sua aprovação na Assembleia Legislativa, mas por suas consequências políticas. Está evidente a tensão entre PT e seu principal aliado em Minas, o MDB. A presença de Dilma na disputa mineira, que poderia fazer sentido para confrontar Aécio no seu campo de batalha, teria sido fator de desestabilização da aliança liderada por Pimentel.

Quaisquer que sejam os resultados da recomposição das tropas nos dois lados da contenda, as minas de denúncias, de fake news e de traições estarão espalhadas pelo campo de batalha para tornar a luta eleitoral em Minas Gerais mais sangrenta do que jamais se viu.

Imprevisível será o desfecho final.

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