PAULO PAIVA

O que podemos aprender com os resultados de eleições passadas

Como as novas forças poderão mudar o curso da história?


Publicado em 18 de abril de 2018 | 03:00
 
 
 
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As análises sobre possíveis resultados do pleito de outubro focam o presente e suas consequências sobre o comportamento dos eleitores. As eleições prometem incertezas e surpresas, em razão do contexto político-institucional, marcado pela corrupção generalizada, pela condenação de importantes líderes nacionais, pelo ativismo político do Judiciário e, também, pela proibição do financiamento empresarial.

Quero, no entanto, olhar para o passado, observando os resultados no primeiro turno dos dois principais protagonistas (PT e PSDB) nos últimos 29 anos e examinar o que se pode inferir com vistas a considerar seus desempenhos nas eleições vindouras.

Na primeira eleição (1989), entre os 22 candidatos, Collor, com 32,5% dos votos, e Lula (PT), com 17%, menos que 1ponto percentual sobre os 16,4% de Brizola (PDT), seguiram para a disputa final. Covas (PSDB) ficou com apenas 11,2%.

Nas seis eleições seguintes, o PSDB venceu as duas primeiras (1994 e 1998), e o PT, as quatro que ocorreram neste século (2002, 2006, 2010 e 2014). Enquanto Lula foi candidato, sua votação em primeiro turno cresceu consistentemente, chegando a 48,6%, em 2006. Sendo Dilma candidata, a votação no PT foi decrescente, 46,9% (2010) e 41,6% (2014). O PT jamais ganhou no primeiro turno.

O PSDB, ao contrário, quando venceu (1994 e 1998), foi no primeiro turno com FHC, atingindo sua votação máxima em 1994 (54,3%). O PSDB venceu turbinado pelo Plano Real, que, eliminando a hiperinflação, teve grande impacto social. Porém, nas eleições seguintes, não conseguiu o mesmo sucesso: perdeu todas.

Serra (2002 e 2010) teve o pior desempenho, e Aécio (2014) chegou a 33,1%, enquanto Alckmin, em 2006 (41,6%), obteve a maior votação. É importante salientar que a oscilação da votação do PSDB coincide com a densidade eleitoral dos outros candidatos. Em 2002, a soma dos votos de Garotinho e Ciro Gomes (23,6%) foi equivalente à votação de Serra (23,2%); e, em 2010 e 2014, as votações de Marina Silva (19,3% e 21,3%) foram consideravelmente maiores do que as diferenças dos votos entre PT e PSDB, 13,3% e 8,1%, respectivamente.

Observa-se que a presença de candidatos com bom desempenho tende a abalar mais a votação tucana, como aconteceu nas eleições de 2002, 2010 e 2014, se comparadas com sua melhor performance na derrota, com Alckmin (41,6%), em 2006, quando a soma dos votos dos demais candidatos não chegou a 10%.

A história mostra que o PT cresceu, principalmente neste século, e que sua menor votação (17%), em 1989, foi suficiente para levar Lula ao segundo turno.

Os impactos de novas forças não ocorrerão no vazio, mas sobre a experiência acumulada nas últimas três décadas. Há de se considerar, no lado do PT, sua sólida base ideológica e o peso dos movimentos sociais e das corporações que, eventualmente, poderão levá-lo para o segundo turno. No lado do PSDB, é importante salientar que suas vitórias estiveram ancoradas em um programa de impacto social muito claro – o controle da inflação. Ademais, por carecer de uma sustentação ideológica sólida, o partido está mais vulnerável às flutuações momentâneas.

Sem a candidatura de Lula, o desempenho do PT poderá ser negativamente afetado, e seu desafio será buscar manter ao menos o piso de 1989 (17%). O PSDB, sem Plano Real para ser competitivo, precisará superar a multiplicação de candidaturas, seu calcanhar de aquiles.

Resta, por fim, a questão: como, no atual contexto político-institucional, as novas forças poderão mudar o curso da história?

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