Na carta de Pero Vaz de Caminha, escrita para comunicar o descobrimento de novas terras ao rei de Portugal, ficou registrada a impressão que os primeiros navegantes portugueses tiveram do Brasil. Uma região com natureza exuberante “em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo”. Estavam em Porto Seguro, na Bahia, no mês de abril de 1500, em plena Mata Atlântica.

Por meio do novo sistema de contas sociais da ONU, que calcula o nível de prosperidade e de riqueza de uma sociedade integrando o valor do capital técnico (máquinas, residências, infraestruturas etc.) com o valor do capital natural (florestas, bacias hidrográficas, lagos e lagoas, aquíferos, costas marítimas, etc.), seria possível estimar o valor da Mata Atlântica em 22 de abril de 1500, a preços de hoje em termos de paridade atualizada de poder de compra internacional.

Assim, o valor econômico total da Mata Atlântica hoje seria igual ao valor da Mata Atlântica no dia do Descobrimento, menos o valor do desmatamento da Mata Atlântica durante cinco séculos, mais o valor do reflorestamento (plantio e replantio) das áreas degradadas e de novas áreas, mais o crescimento vegetativo ou da regeneração da Mata estimados também durante cinco séculos. A Mata Atlântica cobria, originalmente, uma área de aproximadamente 1,3 milhões de quilômetros quadrados, em 17 Unidades da Federação, de forma total ou parcial. O Ministério do Meio Ambiente aponta que, atualmente, ainda há milhares de fragmentos da Mata Atlântica espalhados no território nacional, mas que as áreas bem-conservadas e grandes o suficiente para garantir a sua biodiversidade no longo prazo não chegam a 8% do que eram na época do Descobrimento.

O cálculo da perda de valor da riqueza natural não é apenas uma curiosidade histórica, mas conhecimento sobre a destruição de um ativo ambiental e dos serviços ecossistêmicos que presta à produtividade total dos fatores de produção e ao bem-estar social sustentável da população. O exemplo de algumas áreas de Mata Atlântica de Minas Gerais é ilustrativo.

Minas tem atualmente cerca de 200 municípios dos seus 853, que podem ser classificados como economicamente deprimidos, vivendo basicamente de transferências fiscais e políticas sociais compensatórias do governo federal. Todos estão localizados em regiões da Mata Atlântica que foram desmatadas ao longo de diferentes ciclos produtivos e que deixaram como valor de legado para as futuras gerações elevados níveis de pobreza e de assimetrias sociais. Em períodos recentes, Minas continua a ser o Estado que mais destrói a Mata Atlântica entre todas as unidades da Federação. Até quando?

O processo de degradação ambiental da Mata Atlântica tem dois elementos básicos. O meio ambiente tem sido tratado como um almoxarifado de recursos naturais de acesso aberto ou livre para a produção ou consumo. As decisões sobre os usos alternativos desses recursos foram tomadas por indivíduos autocentrados e de cálculo racional, orientados pelo interesse próprio, ignorando os custos e os benefícios de suas ações para a sociedade e para as gerações futuras. Perguntem aos moradores dos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri, do Norte de Minas e áreas da Zona da Mata qual a condição de vida que lhes foi legada pelo colapso ambiental da Mata Atlântica em suas áreas.