PAULO HADDAD

Uma experiência histórica de desenvolvimento endógeno

Redação O Tempo


Publicado em 27 de janeiro de 2018 | 03:00
 
 
 
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Nos anos 60, a situação socioeconômica de Minas Gerais era de estagnação econômica e de falta de oportunidades para que as pessoas pudessem ter acesso aos mercados de trabalho a fim de realizar seus projetos de vida. As finanças públicas eram precárias, e a visão de futuro era desalentadora.

Nesse contexto, em torno de 17% da população migrou para outras unidades da Federação ou até mesmo para outros países, em busca de emprego e de realização pessoal e familiar.

Era, de fato, um contexto pleno de contradições e ambiguidades. Lado a lado com uma economia estadual sem perspectivas de crescimento, estava uma sociedade com imensas potencialidades de desenvolvimento. Tínhamos um dos melhores sistemas de educação média e superior no Brasil, que disponibilizavam uma oferta relativamente abundante de capital humano e de capital intelectual. O binômio do governador Juscelino Kubitschek havia ampliado o abastecimento dos serviços de energia e de transporte para logística de novos empreendimentos.

Esse hiato criou entre as lideranças um sentimento de inconformismo com o status quo e a necessidade de que o Estado passasse por uma grande transformação.

Deu-se início, pois, a uma notável experiência de desenvolvimento endógeno cujo marco inicial foi a edição de cinco volumes do “Diagnóstico da Economia Mineira”, em 1968, onde se explicitava, na melhor linguagem técnica à época, o que fazer, como fazer, onde fazer e para quem fazer as medidas para tirar Minas do atraso em relação a Rio e São Paulo.

Os resultados dessa experiência foram muito significativos. Minas passou por um processo de industrialização acelerada (crescimento de 11% ao ano) e assumiu o segundo posto na economia nacional, abaixo apenas de São Paulo. Os mercados de trabalho se dinamizaram e se diversificaram.

Hoje, infelizmente, Minas apresenta um quadro econômico e social mais dramático do que em 1960. Nosso PIB per capita ainda é inferior à média brasileira; a nossa estrutura produtiva está relativamente envelhecida face às novas revoluções científicas e tecnológicas; temos cerca de 200 municípios em áreas economicamente deprimidas. São indicativos de que Minas precisa vivenciar um novo ciclo de grande transformação.

Quais as lições que poderemos trazer da experiência passada para a construção do nosso futuro?

Um processo de desenvolvimento endógeno é concebido e implementado a partir da capacidade que dispõe determinada comunidade para a mobilização social e política dos recursos humanos, materiais e institucionais. Fica, portanto, na dependência das qualidades de suas lideranças políticas e comunitárias.

Esse processo não brota no terreno do conformismo, da apatia, da inércia ou da passividade dessas lideranças. Não há grandes mudanças endógenas onde não há inconformismo quanto à precariedade dos indicadores econômicos e socioambientais, quanto ao sub-aproveitamento das potencialidades de crescimento e sem uma visão de futuro.

Se a infraestrutura econômica é necessária para o crescimento de uma região, a condição suficiente vai depender dos capitais intangíveis (capital institucional, capital humano, capital cívico, capital social) de que a região dispõe. Nos anos 70, foram as novas instituições (BDMG, FJP, CDI, Epamig, Indi, Cetec, CDI) que fizeram o desenvolvimento acontecer.

Finalmente, somente se constrói uma experiência de desenvolvimento endógeno, visando a uma grande transformação da sociedade, num ambiente de confiança e de esperança no futuro. Pela frequência e pela intensidade das más notícias nos eventos cotidianos, corre-se, atualmente, o risco de se cair no desalento, na frustração ou, até mesmo, no pessimismo.

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