JOSIAS PEREIRA

Ajax não é acaso, é planejamento

Quando se tem um talento em construção, qualquer ruído precisa ser dissipado. O nosso futebol não é mais capaz de preparar nossos jogadores


Publicado em 11 de março de 2019 | 03:00
 
 
 
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No meio da última semana, o Ajax foi até o Santiago Bernabéu e decretou o fim da hegemonia do Real Madrid na Champions League. O atual tricampeão do futebol europeu viu-se encurralado pelo ótimo time treinado pelo ex-jogador Erik ten Hag. O sucesso do Ajax é fruto de um projeto de maturação de atletas que também pode ser benéfico à seleção holandesa, fora da última Copa do Mundo. Dois exemplos são o zagueiro Matthijs de Ligt, 19, disputado por gigantes do futebol europeu, e Frankie De Jong, 22, vendido ao Barcelona. Há dois anos, a base do Ajax chegava à decisão da Liga Europa contra o Manchester United. O time foi derrotado por 2 a 0, mas mostrou à Europa de que poderia alçar voos mais altos.

Para muitos clubes, esse processo de espera é um verdadeiro parto. O futebol cobra muito isso: o imediatismo. Mas o Ajax vem apostando em seus jovens e mirando em conquistas que já fizeram da agremiação uma das maiores potências do futebol. Tetracampeão europeu, o Ajax viveu glórias nas décadas de 1970 e 1990 com talentos de sua base ou jogadores contratados ainda em formação.

O time holandês que derrubou o Real por 4 a 1, na Espanha, possuía oito jogadores com menos de 23 anos, seja entrando como titular ou no decorrer do confronto. A média de idade do Ajax é de 24,1 anos, a menor entre as equipes das oitavas da Champions e superando o Lyon, com 24,2, que também pode ser uma das surpresas nesta fase do torneio. O time francês enfrentou o Barcelona e o primeiro jogo ficou 0 a 0. O resultado não foi apenas uma zebra, mas, a certeza de que planejamento e organização podem ser a chave para vencer a concorrência de um mercado brutal de transferências.

No mesmo jogo em Madri, David Neres ganhou, com o infortúnio de Vinicius Jr., a primeira chance na seleção. Ex-São Paulo, o atacante, de 22 anos, atravessou um cenário complicado, mas sua obstinação e a retomada das oportunidades o fizeram deixar um cenário de quase transferência ao futebol chinês para a lista de Tite. Mais uma vez, a paciência entra em cena. Nesse fim de semana, ele deixou dois gols na vitória sobre o Fortuna Sittard por 4 a 0, pela Eredivisie, tentos que o fizeram entrar no Top 10 de brasileiros artilheiros na Liga Holandesa, com 22 no total.

E é aí que entra a lapidação destas joias, como feito com Neres. O futebol holandês proporciona condições não só esportivas, mas intelectuais, que induzem os atletas ao crescimento. Quando vemos jovens estrelas despedindo-se do Brasil de forma tão precoce é porque o futebol europeu entende que esses jogadores precisam ser ensinados desde cedo. E quando se tem um talento em construção, qualquer ruído precisa ser dissipado. O nosso futebol, por si só, não é mais capaz de preparar nossos jogadores. Talvez Neymar tenha permanecido por tempo demais, sendo mimado no Brasil. 

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