JOSIAS PEREIRA

Parem as comparações, e aproveitamos o show

É isso que faz o futebol ser apaixonante. A sua capacidade de reinvenção é infinita


Publicado em 25 de fevereiro de 2019 | 03:00
 
 
 
normal

Por vezes a programação esportiva da TV brasileira nos conduz para debates um tanto quanto estúpidos em relação ao futebol. Nos últimos dias esses enfrentamentos têm se tornado uma constante sobre a qualidade dos protagonistas que fazem o futebol ser o que é. Há em nós uma certa preocupação em criar mitos e fazer com que novos ídolos superem os do passado. Mas os apontamentos sobre quem é melhor têm sido tão rasos que não se encaixam.

Eu não ousaria entrar no mérito de quem superou quem porque eu não vi o que gerações passadas contemplaram e cairia no óbvio ao dizer que o futebol antigo seria lento, por exemplo, como muitos justificam ao dizer que tal jogador só se destacou porque a marcação era diferente.

Essa correria em tirar o outro do patamar que atingiu é algo que é nosso, intrínseco ao ser humano que leva a competitividade a índices de extremos. O pior é quando há os chamados fãs-clubes generalizados de atletas, capazes de tocar uma guerra cibernética para defender o seu ídolo. Mas não seria muito mais simples aproveitarmos o que temos presenciado e ao invés de falarmos que Neymar é o melhor jogador depois da era Pelé apenas estabelecermos Neymar como o grande jogador que é na sua geração? Quantos meninos hoje não se espelham em Neymar, não porque ele é melhor que Ronaldo, Ronaldinho, mas, sim, porque ele é o Neymar.

Por que apontar Messi como maior que Pelé e não simplesmente valorizá-lo como o mito que é na sua era? Daqui a 50 anos poderemos falar que vimos, ouvimos e presenciamos as proezas de um garoto argentino que parecia grudar a bola no pé, assim como ouvimos dos saudosos o quanto Pelé, Tostão, Dirceu e tantos outros gênios de seus tempos foram mágicos.

A disputa é tão esvaziada que os próprios atletas a consideram sem sentido. Mas é claro que a polêmica vende, sustenta. O certo é que cada um possui, no seu íntimo, um jogador em quem se espelha, aquele atleta que arrebata no primeiro toque na bola. É isso que faz o futebol ser apaixonante. A sua capacidade de reinvenção é infinita, e nós somos os privilegiados por, a cada nova era, termos gigantes.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!