JOSIAS PEREIRA

Um tapa na cara dos racistas e um mal que está impregnado no futebol

O italiano Moise Kean, da Juventus, é o novo fenômeno da Europa


Publicado em 08 de abril de 2019 | 03:00
 
 
 
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Sete gols marcados em seus últimos sete jogos por clube e seleção, segundo “adolescente” neste século a marcar ao menos cinco vezes por um time em uma única temporada da Série A italiana ao lado de Pogba, o melhor rendimento minutos/gols (um tento a cada 47 minutos) entre jogadores com ao menos duas bolas na rede nas maiores ligas da Europa. O italiano Moise Kean, da Juventus, é o novo fenômeno da Europa, brilhando em uma Juve que tem “apenas” Cristiano Ronaldo.

No desejado cenário esportivo, o futebol sempre se impôs como uma tentativa de trazer consciência e unidade aos mais variados dilemas humanitários. Mas existe um mal que está impregnado, um câncer que não se cansa de macular a modalidade. Kean já é alçado à condição de candidato a ídolo, mas o tom de sua pele provoca em muitos repulsa a ponto de um próprio companheiro, no caso o zagueiro Bonucci, apontar que parte das ofensas que o jovem atacante recebeu após marcar um gol na vitória sobre o Cagliari, por 2 a 0, pelo Italiano, foi culpa do próprio atleta.

Há no consciente coletivo a preservação do negro subserviente, o escravo, o serviçal, e quando algo fora dessa dinâmica repressora irrompe, a resposta sempre é a pior possível. O racismo em sua manifestação mais suja é aquele que está impregnado na mente, não nos atos. Ver um negro ocupando uma posição de destaque fere a lógica, ainda mais em uma Europa cada vez mais às voltas com a questão migratória. O futebol pode ser o mais praticado de todos os esportes, mas é também um dos mais excludentes porque as punições são brandas.

Danny Rose, lateral do Tottenham, sofreu ataques racistas em um duelo recente da Inglaterra contra Montenegro pelas Eliminatórias da Eurocopa e, em entrevista, foi direto à raiz da questão. “É muito triste (se sentir assim), mas quando países são só multados com o que eu provavelmente gasto em uma noite em Londres, o que eu devo esperar?”. Uma indagação que ecoa e colabora para que os ‘Keans e Roses’ da vida sigam seus caminhos sozinhos, desejando apenas que seu talento silencie a multidão de hipócritas que se escondem no tóxico ambiente que pode ser o futebol.

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