Proteste

O alto preço dos alimentos no Brasil

Mais um desafio para os consumidores

Por Fábio Pereira Zacharias
Publicado em 13 de maio de 2022 | 03:00
 
 
 
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O alto custo dos alimentos é realidade não apenas em nosso país, mas em todo o mundo. O Índice de Preço de Alimentos da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO, agência da ONU) atingiu em março o nível mais alto dos últimos 32 anos. E a inflação dos itens da cesta básica no Brasil chegou a 21% no acumulado dos últimos 12 meses.

A disparada dos preços tem por trás causas conjunturais, como a Covid-19 e a guerra entre Rússia e Ucrânia; e estruturais, como o aumento da renda na Ásia e na África – cujas populações com maior poder aquisitivo exercem uma pressão crescente por mais e melhores alimentos – e as mudanças climáticas, que aumentam a imprevisibilidade das safras. Dada a complexidade do cenário, o Banco Mundial alertou em recente relatório que os preços devem seguir elevados até o final de 2024.

Ainda que tenhamos saltos de produtividade nas lavouras, habilitados por avanços tecnológicos e melhores práticas, esses incrementos não serão suficientes para arrefecer os preços dos alimentos, que continuarão pressionados no futuro por conta da alta demanda. Outros agravantes são a desvalorização cambial – que torna a exportação mais atraente e lucrativa para o produtor, mas penaliza o consumidor brasileiro, que paga preços equivalentes aos internacionais – e o preço do petróleo, que disparou em mais de 45% neste ano, pressionando fretes e a cadeia de distribuição de alimentos.

De modo a monitorar a movimentação e as tendências de mercado, a Proteste realiza pesquisas frequentes de preços há mais de 15 anos. Em 2021, vimos uma grande variação, a segunda maior de nossa série histórica. A cesta de produtos essenciais, como alimentos e produtos de limpeza, ficou 78% mais cara em comparação a 2019. Tamanho aumento reduziu o poder de compra do consumidor e também o poder de escolha, já que as pessoas têm precisado fazer substituições e até mesmo deixar de consumir determinados produtos, por conta dos preços muito altos.

Os resultados de outra pesquisa que conduzimos, com o objetivo de entender o grau de endividamento do consumidor, apontaram que houve crescimento na percepção de endividamento, especialmente entre as famílias que têm renda entre um e dois salários mínimos. Uma das consequências desse estado de coisas é o uso extensivo do cartão de crédito para comprar alimentos em quatro ou cinco parcelas, o que é preocupante, pois, quando a compra seguinte for feita, a anterior ainda não terá sido quitada, criando um efeito bola de neve.

Frente a um panorama tão desafiador, no qual a renda dos brasileiros é quase 12% menor do que era há 12 meses, não há soluções fáceis no curto prazo. Considerando que os custos com a compra de alimentos corresponde a cerca de um quarto do orçamento dos brasileiros, fazer boas escolhas nunca foi tão importante. Planejamento e adaptação são imperativos para sobrevivermos a estes tempos difíceis. Até o Brasil voltar a crescer e a gerar mais renda e empregos, será com essas competências que poderemos contar.

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