Fábio Pereira Zacharias - Proteste

O consumidor de energia do futuro

Omnisumer mais engajado e protagonista no setor

Por Fábio Pereira Zacharias
Publicado em 24 de junho de 2022 | 03:00
 
 
 
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Após funcionar por mais de um século praticamente da mesma maneira como foi concebido por Thomas Edison no final do século XIX, o setor elétrico, finalmente, vem passando por profundas transformações. Se analisarmos pela perspectiva do consumidor, esta será a década da disrupção. Em nenhum momento, nos últimos 30 ou 40 anos, vimos um consumidor tão envolvido e ativo no cenário da energia quanto agora.

A pesquisa Navigating the Energy Transition Consumer Survey (ou Navegando na Transição Energética, em tradução livre), realizada neste ano pela consultoria internacional EY com consumidores distribuídos em 17 países, incluindo o Brasil, apontou quatro grandes tendências que estão pautando a transição energética.

A primeira é a descarbonização da economia, caracterizada pela busca por fontes renováveis, transporte elétrico, prédios inteligentes e tecnologias habilitadoras, como são asbaterias de longa duração que permitem armazenar energia. 

A segunda é a digitalização, fator de especial relevância por possibilitar que as relações de consumo sejam mais horizontais e fluidas, eliminando a necessidade de intermediários e dando vez ao uso de redes e aplicativos. Grande exemplo é o caso dos serviços financeiros, que praticamente eliminaram a necessidade de bancos físicos. 

A próxima tendência, também viabilizada pela digitalização, é a descentralização. Especialmente nesse tópico, tivemos avanços importantes em nosso país, como foi o caso do marco legal da micro e minigeração distribuída (Lei 14.300/2022). A nova lei, cuja aprovação se deu com apoio decisivo da Proteste, conferiu segurança jurídica aos consumidores que produzirem a própria energia que utilizam a partir de fontes renováveis, como a solar, eólica e hídrica. 

Finalmente, a última tendência é a democratização, com a voz do consumidor sendo mais ativa junto a todos os fornecedores de serviços públicos, inclusive os de energia.

Há aproximadamente uma década, a experiência de consumo de eletricidade resumia-se à mera utilização do insumo com o posterior pagamento da fatura. O usuário, antes posicionado no fim da cadeia de valor, passou a ocupar papel cada vez mais proativo. Por essa razão, vem sendo classificado pelos pesquisadores como “omnisumer”, um novo tipo de consumidor que assume um papel de liderança na transição energética.

Esse ator em ascensão, que é justamente o consumidor do futuro, pertence às gerações Y e Z, maior grupo demográfico do mundo, e tem preferências totalmente diferentes das de seus pais e avós. É mais engajado, propenso a monitorar o consumo frequentemente e a preferir opções de pagamento antecipado ou de acordo com o uso. Isso já ocorre nos setores de transporte e hospedagem, e, em breve, deverá impactar o setor elétrico.

Se quisermos pensar no futuro, devemos enxergar com as lentes das próximas gerações, e não apenas com a perspectiva do presente. O desejo dos consumidores por opções de energia que ofereçam maior personalização, escolha e controle tende a remodelar as bases da experiência energética. Nesse sentido, é hora de os distribuidores, legisladores e reguladores reverem os fundamentos da experiência energética, o que inclui as principais premissas que sustentam as opções de tarifa, cobrança e pagamento. 

Precisaremos de soluções tecnológicas mais flexíveis, assim como de novas plataformas de engajamento digital e pacotes de opções para fornecer aos consumidores escolhas mais simples e eficazes. A Proteste estará ao lado dos consumidores, dos reguladores e das concessionárias, participando ativamente da construção desse futuro tão interessante e inclusivo.

Fábio Pereira Zacharias é CEO da Proteste

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