Proteste

Os consumidores e a inteligência artificial

Adaptação de práticas e políticas públicas

Por Fábio Pereira Zacharias
Publicado em 18 de agosto de 2023 | 07:15
 
 
 
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O acompanhamento de tendências, assim como o monitoramento dos efeitos e desdobramentos que os avanços tecnológicos geram na vida dos consumidores, é uma das prioridades da Proteste. É dessa forma que conseguimos realizar a leitura de cenários e identificar oportunidades para ampliar a nossa atuação na defesa de direitos e promoção de avanços regulatórios.

Nesse sentido, no início de junho, produzimos uma pesquisa inédita com o objetivo de compreender a percepção dos consumidores brasileiros acerca da utilização das aplicações de Inteligência Artificial (IA) generativa, especialmente o ChatGPT. Esse levantamento nos permitiu explorar fatores como confiança, confiabilidade, regulamentação e satisfação dos consumidores em relação ao ChatGPT.

Considerando que 65% da nossa população utiliza a internet exclusivamente no celular (Pnad, IBGE) e que, ainda assim, o Brasil é o segundo país do mundo no qual os consumidores têm maior interação diária com IA (Relatório do Instituto de Pesquisa Capgemini, intitulado “The art of customer-centric artificial intelligence”, lançado em 2020), os resultados apresentam reflexões interessantes.

Entre as conclusões do estudo, do qual participaram mais de mil respondentes de todas as regiões do país, com idades entre 18 e 74 anos e diferentes níveis educacionais, podemos destacar que o ChatGPT está, de fato, em uso pelos consumidores: dois em cada três entrevistados relataram ter ao menos experimentado a sua utilização ou a de sistemas baseados nessa tecnologia visando gerar ou resumir textos e buscar informações.

Em geral, os usuários do ChatGPT tendem a ter uma experiência satisfatória e sem complicações devido à facilidade de registro e utilização, além da confiabilidade das respostas e eficiência na geração de conteúdos. Isso sugere que, apesar de alguns usuários reconhecerem a potencial imprecisão das respostas, ainda consideram o ChatGPT uma ferramenta útil. Por outro lado, entre os não usuários da ferramenta, apenas 16% acreditam que o ChatGPT forneça informações confiáveis.

Quanto à privacidade, os usuários do ChatGPT tendem a confiar que sua privacidade esteja protegida ao usar a ferramenta ou sistemas semelhantes. Considerando inteligência artificial como um todo, cerca de 25% dos entrevistados (usuários e não usuários do ChatGPT) expressaram sua preocupação de que a IA levará a mais abuso de dados pessoais.

Paralelamente, 51% dos entrevistados afirmaram sentir-se bem informados sobre inteligência artificial, ao mesmo tempo em que apenas um em cada cinco considera a legislação atual adequada o suficiente para regular com eficiência as atividades baseadas em IA. Ao todo, 52% dos entrevistados apontaram que a ferramenta pode ajudar a economizar muito tempo em várias profissões, embora 29% acreditem que o ChatGPT tornará as pessoas mais “preguiçosas” ou ocasionará o aumento do desemprego (23%).

Saber que a familiaridade dos brasileiros com a IA tende a ser crescente também reforça a necessidade de nossos agentes econômicos adaptarem suas políticas e práticas, de forma a atender aos princípios e valores da nossa legislação. Para que a confiança dos consumidores se mantenha, é fundamental que haja transparência, especialmente quanto ao uso dos dados que são coletados ao longo da utilização das aplicações.

Fábio Pereira Zacharias é CEO da Proteste

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