RAIMUNDO COUTO

Começar de novo (I)

Redação O Tempo


Publicado em 27 de junho de 2018 | 03:00
 
 
 
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Mais de duas décadas depois do anúncio do fim da Autolatina, holding que uniu a Volkswagen e a Ford por sete anos – do fim da década de 80 até meados dos anos 90 – o assunto volta a ocupar o noticiário e as redes sociais. Desta vez, porém, as marcas pretendem fazer algo diferente. Será cada uma no seu quadrado, mas com ambas buscando uma aliança estratégica. 

Volks e Ford deixaram claro que essa parceria não resultará na criação de uma nova empresa como ocorreu no passado. Também não haverá investimentos entre as empresas ou troca de ações. A intenção é a de aumentar a capacidade competitiva das duas fabricantes, mundialmente falando. Pela marca do oval azul, Jim Farley, presidente de mercados globais da Ford, revelou que “a marca está comprometida em melhorar sua condição como negócio e utilizar modelos de negócios adaptativos, o que inclui trabalhar com parceiros para melhorar a nossa efetividade e eficiência”. Pelo outro lado, o diretor do grupo de estratégia da Volkswagen, Thomas Sedran, afirma que “as empresas já possuem posições fortes e complementares em diferentes segmentos de veículos comerciais”. 

Enquanto isso, não custa refrescar a memória e lembrar que, no passado, a joint venture entre Volks e Ford só beneficiou a concorrência – no caso, a General Motors (GM) e a Fiat. Para entender um pouco o que ocorreu, é necessário voltar no tempo para conhecer os erros cometidos pela então Autolatina, nome da empresa que marcou a união entre Volks e Ford. Foi em novembro de 1986 que essa notícia surpreendeu o mercado automobilístico brasileiro. A Volkswagen, então líder absoluta de mercado (34,5% das vendas) divulgava que passaria a operar – no Brasil e na Argentina – em conjunto com a Ford, que, naquela época, ocupava a terceira posição no ranking nacional (23,6% das vendas), acima da Fiat e abaixo da General Motors e da própria Volkswagen. 

Para viabilizar o negócio, as marcas constituiriam, a partir daquela data, para iniciar as atividades em julho do ano seguinte, a Autolatina, cujas ações eram divididas de forma que a VW abocanhasse a maior parte do bolo, com 51% do controle acionário, e os outros 49% para a Ford. No começo, tudo parecia ir bem. Cada qual mantinha suas unidades fabris independentes, mas as decisões sobre linhas de produção e estratégias comerciais seriam compartilhadas. As administrações se uniram em um mesmo espaço físico, um prédio com o logo Autolatina estampado na porta. 

Por mais que a comunicação estabelecida com os clientes procurasse passar a ideia de que não se tratava de uma incorporação ou fusão das duas empresas, mas de um acordo operacional com benefícios para ambas, parte dos consumidores tradicionais da Volkswagen e da Ford acabaram migrando para as marcas concorrentes (leia-se Fiat e General Motors).

A união rendeu os “filhos da Autolatina”, automóveis que nasceram com pecado original e nunca desfrutaram de sucesso no mercado. Pelo contrário, a grande maioria deles recebeu em toda sua trajetória de mercado muitas críticas do público e da imprensa especializada. Mas esse é um assunto de que falaremos em nosso encontro na próxima semana. Ate lá!

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