RAIMUNDO COUTO

Lá e cá

Redação O Tempo


Publicado em 26 de novembro de 2014 | 04:00
 
 
 
normal

Na semana passada nos ocupamos de contar a história de Talita Estrela, profissional no ramo de intercâmbios que viveu aventuras e desventuras durante uma estada em Munique, na Alemanha. Naquela ocasião, se viu envolvida em um imbróglio quando o carro que dirigia esbarrou em outro, sem que ela se desse conta, o que lhe ocasionou uma série de aborrecimentos, dada a rigorosa legislação alemã. Um processo foi instaurado, e ela acabou sendo condenada a cumprir um mês de reclusão ou pagar uma pesada multa. Decidiu pela segunda opção, e o assunto estava terminado. Mas acabou ganhando suíte, como se denomina no jornalismo um tema que se estende, com o e-mail enviado a nossa redação pelo professor aposentado Nacib Rachid Lauar.

Leitor contumaz de nossas publicações, o ex-professor, atento, observou em sua missiva uma curiosidade que nos mostra o quanto estamos distantes do que se vê na Alemanha. Segundo nos contou em seu relato, sua filha Caroline, casada com um alemão e moradora de Munique, está tentando tirar a permissão para dirigir naquele país. Exigência normal para estrangeiros que pretendem seguir por lá passados os primeiros três meses de permanência. Enquanto no Brasil o sistema para obter a habilitação tem no teste prático e, sobretudo e principalmente, na temida baliza a principal responsável pelo grande número de reprovações, na Alemanha, o candidato precisa ir muito além de saber estacionar entre dois veículos.

Diferentemente do que aqui é praticado, em que o postulante à carteira trafega apenas em vias urbanas em baixa velocidade, na Alemanha o pretendente a uma habilitação passa por testes reais da vida prática. Um percurso misto na cidade e em rodovia faz parte do exame. “Esta é a segunda prova a que Caroline se submete. Na primeira foi reprovada depois de trafegar a 120 km/h em uma Autobahn (pistas largas onde, mesmo controladas por radar, são permitidas altas velocidades) e não ter ficado atenta quando outra placa indicando para baixar a velocidade não foi observada. Na hora o examinador comunicou que perdera aquela tentativa”, nos conta Nacib em sua missiva eletrônica.

Ele segue sua narrativa relatando que sua filha aguardou o prazo estipulado entre um e outro exame, que nesse caso se assemelha com o que é visto por aqui, duas semanas, para novamente se habilitar a outra tentativa. Mas encerram aí as comparações. Tudo diferente. E lá foi Caroline para sua segunda, mas não derradeira tentativa. Novamente reprovada. Outra desatenção, mas justificada pelas diferenças em relação àquilo a que estava habituada quando dirigia em Belo Horizonte. Enquanto aqui as placas de parada obrigatória são determinantes, em Munique basta atenção em uma conversão para esquerda, por exemplo. Não vindo outro automóvel na direção, basta olhar, rapidamente, não vacilar e nem titubear, acelerar e seguir em frente. E não foi isso que Caroline fez. Como boa motorista brasileira, pensou na parada obrigatória, imaginária, esperou mais do que devia e quando decidiu concluir a conversão já era tarde. O examinador entendeu que essa atitude demorada em sua decisão representaria um risco, ao permanecer parada mais tempo que a segurança determina, e lhe deu outra bomba.

Possivelmente, depois de passar por essas duas experiências diferenciadas, a filha de Nacib será toda atenção em uma terceira vez e finalmente obterá sua aguardada permissão de ir e vir motorizada pela Alemanha afora.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!