RAIMUNDO COUTO

O dono do mundo

Redação O Tempo


Publicado em 15 de março de 2017 | 03:00
 
 
 
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Na semana passada, ocupamos nosso espaço para revelar os bastidores do último grande negócio ocorrido entre montadores de automóveis e que envolveu a francesa Peugeot-Citroën e a alemã Opel. Para refrescar a memória, no pacote foi incluída, também, a compra da inglesa Vauxhall, que atua no Reino Unido, e também faz parte do acervo de marcas que formam a GM. A compra das duas marcas pela PSA faz nascer o segundo maior grupo automotivo da Europa, atrás da Volkswagen e à frente da Renault, e o valor do negócio foi de € 2,2 bilhões.

Ao final do texto mencionamos que não devem parar por aí as negociações entre grandes fabricantes e que teria italiano querendo se casar com americano. E olha que isso não é de hoje. Estamos nos referindo ao interesse que demonstrou o executivo número 1 da FCA (Fiat Chrysler Corporation), o italiano Sergio Marchionne, em uma fusão de seus ativos com os da GMC – General Motors Corporation –, união esta, que se por acaso um dia sair do campo das especulações e deixar de ser apenas um objeto de desejo do responsável pela operação da FCA, resultaria na maior montadora do mundo.

Antes de entrarmos no assunto propriamente dito, vale lembrar que uma tentativa neste sentido foi feita há mais de uma década. Mas não seria como pretende, hoje, Marchionne, propriamente uma fusão entre os dois fabricantes. Naquela ocasião a GM compraria a Fiat, e para isso chegaram a assinar um protocolo de intenções, em que estava prevista uma vultosa multa contratual caso o negócio não fosse efetivado. Preliminarmente, se uniram para produzir, em conjunto, os motores para suas respectivas linhas de produtos, e na sequência os americanos assumiriam as demais etapas.

E não é que para a sorte da Fiat o negócio andou para trás? Isso porque a citada multa bilionária pela desistência fez com que a saúde da montadora, que andava mal das pernas, fosse recuperada. Cada uma seguiu seu caminho, a GM, poucos anos depois entrou em uma bancarrota e foi salva pelo governo norte-americano, e a Fiat, ao contrário, cresceu, investiu, assumiu o passivo para levar a marca Chrysler e colocar os dois pés na América.

E agora o assunto volta à baila com o executivo italiano sondando o interesse da GM em uma fusão com “sua” FCA. Para ajudar a convencer os dirigentes americanos, apela para o discurso do atual presidente dos EUA que exalta a necessidade de concentrar investimentos no país. Marchionne acredita que a fusão da FCA com a GM agradaria a Trump. Na verdade, a GM nega interesse nesse acordo. O certo é que uma negociação deste porte criaria a maior companhia automotiva norte-americana e o maior conglomerado do mundo no setor e teria sede nos Estados Unidos.

Favorável pela consolidação entre as empresas do setor automotivo, a fusão global entre montadoras contribuiria para o compartilhamento dos custos cada vez mais elevados. Contudo, um grande e considerável entrave tende a impedir o andamento destes entendimentos, a General Motors tem valor de mercado estimado em US$ 57 bilhões, com faturamento anual de US$ 156 bilhões, a FCA é avaliada em US$ 20 bilhões e registrou receita de € 96 bilhões em 2014. Sem contar que a FCA tem uma grande dívida industrial.

Caso sejam aparadas estas complexas arestas, mais nada impediria a fusão GMC-FCA, o negócio tem total aprovação da família Agnelli, detentora da maior participação acionária no conglomerado italiano. Inclusive o herdeiro John Elkann, presidente do conselho da FCA, teria afirmado que a companhia pretende agir com determinação para fechar negócio no caso de um acordo entre as partes. Pode ate ser que não aconteça, mas se onde há fumaça, há fogo, quem sabe...

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