Concertação
Depois do surto inicial, o mercado financeiro passou a reagir com calma à crise política. Ontem, foi mais um dia de leves oscilações do Ibovespa e do dólar, refletindo a aposta dos investidores na estabilização rápida do país. O mercado, e empresários em geral, acreditam na cassação de Temer agora em junho e sua sucessão por outro presidente reformista no bojo de uma ‘concertação’ liderada pelo partido que representa o meio: PSDB. Para os donos do dinheiro, tudo se encaminha para um acordão que garantiria o avanço das reformas. E para o capital, reformar é tudo o que importa hoje.
Ou barricada
Embora consenso empresarial, a concertação tucano-reformista está longe de ser o único cenário. As reformas seguem rejeitadas na sociedade e no Congresso. Qualquer que seja o nome concertista, ele deverá enfrentar forte concorrência de candidato(s) não-reformista(s). Não existem antônimos para a palavra concertação. Seu oposto seria o espírito da barricada que predominou nos protestos desta quarta-feira. Assim, em vez de acordão, o que pode estar a caminho é um grande confronto, de fazer sangrar o país.
Velha guarda
Maia tem 46 anos: seu futuro estará arruinado se tiver que passar o resto da vida respondendo a processos. Pelos mesmos motivos, mas em situação oposta, os pré-candidatos mais velhos, na casa dos 70 ou perto disso, são os que têm maior chance de emplacar na eleição indireta. Os septuagenários já estão com a vida feita, além de contar com certa imunidade no Judiciário. Para a velha guarda, a canoa é bem menos perigosa. No mais, uma crise nas proporções atuais pode ser demais para políticos mais imaturos.
Deixa disso
Pessoas próximas a Rodrigo Maia estão aconselhando-o a não embarcar na ideia de uma candidatura presidencial. Acham que a canoa é furada. E perigosa. O presidente da Câmara já está citado por delatores. O receio de parentes e amigos é que, ao postular a cadeira de Temer e disputar o jogo pesado da eleição indireta, ele aumente sua exposição à Lava Jato e se torne alvo de mais acusações.
Estilosos
Em evento cultural, Bruno Mitre e Eduardo Barrioni
Racha socialista
Marcio Lacerda vai cortar um dobrado para se reeleger na presidência do PSB-MG. Tudo indica que ele terá competidor. E forte. Grupos de base articulam o lançamento de Adenor Simões, membro histórico e querido na legenda, com apoio do deputado Júlio Delgado e da cúpula nacional. As eleições para renovação do comando partidário ocorrem neste ano.
Cima a baixo
Adenor tem proximidade e afinidades políticas com o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, que hoje enfrenta uma disputa interna com o vice de Alckmin, Márcio França, aliado de Lacerda. Ou seja, o racha em Minas está reproduzindo uma grande queda de braço em nível federal.
Esquerda volver
O racha socialista é ideológico. Siqueira lidera no momento uma guinada à esquerda no partido, que se posicionou contra as reformas e ontem propôs a outras legendas do campo (PT, PCdoB, PSOL, Rede etc.) a formação de um comitê pró-eleições diretas no Senado. Na outra banda do PSB, o vice de Alckmin puxa os grupos que apoiam às reformas e ao acordão tucano.
Paradeiro
A delação da JBS travou a pré-campanha em Minas para 2018. A prisão de Andrea e o afastamento de Aécio interromperam tratativas que começavam a andar no campo do PSDB. No momento, os aecistas estão imobilizados pela perplexidade. E no outro lado, aumentou a insegurança jurídica em relação à elegibilidade de Fernando Pimentel, até aqui o candidato natural e único do governismo.
Pau torto
A Transparência Internacional, referência global na defesa da ética pública, chegou à conclusão de que a corrupção brasileira é “sistêmica e estrutural”, conforme palavras do presidente da entidade, José Ugaz, sintetizando a visão externa que está se formando sobre o nosso país.