O jornal O TEMPO trouxe uma importante reportagem sobre a exploração do lítio no Vale do Jequitinhonha na sua edição de ontem. É um tema que já tratei algumas vezes aqui na coluna. Os minerais críticos existentes em Minas Gerais são pontos fundamentais no futuro do nosso desenvolvimento econômico.
A cadeia do lítio é a que está em estágio mais avançado e desperta grande interesse no mercado mundial. Suas propriedades físico-químicas o tornam especial, sendo usualmente empregado na produção de baterias, graxas, reatores, cerâmicas, vidros, fármacos, polímeros, entre outros.
Como mostrou a reportagem, no Brasil, o Vale do Jequitinhonha tem o maior potencial de exploração do lítio, concentrando aproximadamente 85% das reservas já descobertas. O investimento das mineradoras na região gira em torno de R$ 5 bilhões nos próximos anos, e devem ser gerados 14 mil empregos diretos e indiretos.
O Brasil entrou na rota mundial de exploração dos chamados minerais críticos, não só do lítio, passando a ser objeto de cobiça das grandes potências econômicas. No final de 2024, a Export-Import Bank of the United States, agência oficial de crédito à exportação dos Estados Unidos, aprovou um projeto de US$ 266 milhões (R$ 1,49 bilhão) em financiamento de dívida para subsidiária da canadense Lithium Ionic, que trabalha na exploração do lítio em Itinga, no Vale do Jequitinhonha.
O mineral está inserido na disputa tecnológica e militar entre China e EUA. As terras raras foram objeto da guerra tarifária instalada pelo presidente Donald Trump. No acordo tributário acertado entre as duas potências, elas foram o ponto principal usado pelos chineses na negociação comercial. Como eles detêm quase a totalidade da exploração mundial, passaram a controlar as exportações até o governo estadunidense ceder.
O Brasil vive um momento estratégico no cenário global da mineração. Em meio à corrida por fontes de energia limpa, eletrificação e tecnologias verdes, o país atrai os olhos do mundo não só pelo lítio, que já nos colocou em quinto lugar na exploração mundial.
O país abriga a terceira maior reserva dos 17 elementos químicos conhecidos como “terras raras”. A cidade de Araxá contém a maior reserva de nióbio, o que representa 94% da disponibilidade no planeta. Além disso, temos a segunda maior reserva de grafite e a terceira de níquel.
Apesar do potencial, o Brasil ainda não domina a tecnologia de beneficiamento e transformação industrial das terras raras. Ainda exporta os minerais brutos, sem agregar valor. O permanente desafio é a criação de linhas de industrialização internas, para romper o ciclo de ser mero exportador de commodities, vocação que mantemos desde a chegada dos portugueses.
É um sonho antigo e de difícil realização. Ao invés de avançar, temos exemplos de retrocesso, como no caso da pretensa fábrica de células de baterias de lítio-enxofre que seria instalada em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. O projeto foi para o ralo antes de ser implementado.
A riqueza do subsolo brasileiro precisa encontrar caminhos que levem a um projeto nacional de desenvolvimento por meio da industrialização – com o princípio de ser sustentável, respeitando o meio ambiente, e centrado na geração de empregos qualificados, na inovação e na distribuição justa dos benefícios.
Caso contrário, o país corre o risco de seguir preso ao ciclo histórico da exportação de commodities, uma sina que, diante das oportunidades do presente, precisa ser superada.