RENATA NUNES

Para mim mesma

Redação O Tempo


Publicado em 19 de agosto de 2016 | 03:00
 
 
 
normal

Quando era adolescente, costumava escrever sobre a vida, num texto confuso, traçado com canetas coloridas em diários ou agendas. Mais tarde, contei casos ou matei saudades em cartas destinadas a amigas queridas ou familiares distantes. Fazia questão de colocar o selo e levá-las aos Correios – já ansiosa por receber respostas. Nunca mais parei de escrever: e-mails, comentários em redes sociais, análises, poemas, crônicas, textos informativos e reflexões em geral.

Contei histórias: de novos e antigos amigos, de pessoas que acabei de conhecer. Destinei palavras a quem já partiu e me dirigi, até mesmo, a quem iria nascer. Escrevi sobre um montão de gente. Para mim, diretamente, nem uma letra sequer. Então, farei agora. Para reler daqui a uns dez anos, 15 talvez. Nós refletimos tanto sobre nossas próprias vidas, mas, muitas vezes, não nos destinamos o carinho merecido ou necessário. Aconselhamos os outros e nos esquecemos de nós mesmos. Em tom de carta, com o traço nostálgico que me é peculiar, segue aqui um exercício – palavras minhas para mim mesma:

Querida Renata,

Espero mais que tudo que estas palavras te encontrem bem e cheia de saúde; e que você esteja ao lado daqueles que tanto ama. Passaram-se anos, e acredito que a maturidade tenha sido um presente. Suas marcas são frutos de sua coragem, inquietude e história. O tempo é companheiro e, certamente, te fez uma pessoa melhor. Espero que ele tenha levado embora as velhas aflições e trazido novos desafios, afinal, você sempre saiu-se bem diante deles – te fizeram crescer. Não te faltou esforço, e sou testemunha disso.

Admiro tanto suas vitórias, sua forma de enfrentar as dificuldades. Mesmo não sendo da maneira mais serena, tinha sempre um tom de paixão e justiça. Muitas vezes, lutas movidas pelo desejo de ajudar os seus. Instinto de amor não desaparece fácil, e, por isso, acredito que tenha seguido com você. Até aqui, conseguiu viver maravilhas e dores sem perder sua fé. Mesmo que, vez ou outra, seja difícil mantê-la.

Agora me responda: melhorou com as manias? Olha lá, hein? A idade é para relaxar. Portanto, não sofra tanto com ansiedade ou perfeccionismo. Provavelmente não deixou de fazer listas. Acho até que elas são importantes. Mas vê se não pira por não conseguir cumpri-las à risca, ok? E nada de rabugices, não se esqueça do quanto batalhou para ficar mais serena. Respira! Até que não engordou muito. Ufa! Cansei de repetir que o problema da dor nas costas era a falta de ginástica. Atividade física faz bem para a saúde, além de te manter em forma. Continua a lutar contra essa preguiça, vai valer a pena.

Parabéns por valorizar os amigos que de fato mereceram tanto carinho ao longo desses anos. São eles que gostaria de ver hoje a seu lado. Companheiros de risadas, dores, vinhos e, principalmente, verdades que tanto importam para você. E a família? Como anda seu maior tesouro? Certamente, ela é tratada com o mesmo cuidado que em meus tempos. Talvez melhor, porque os anos aproximam e amadurecem o amor. Continue rindo à toa, valorizando coisas simples e mantendo a mente atualizada. Obrigada por seguir corajosa e justa, por não ter medo de errar, pelos recomeços e por estar inteira no que se propõe. Traçamos juntas esse caminho. Ah, já ia me esquecendo: tenho muito orgulho de você, embora nunca tenha parado para te dizer. Sabe como é, foram anos muito corridos. Siga em frente. Ame, sonhe, construa e seja feliz. Merecemos.

Com todo o meu amor, Renata.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!