Representatividade

Universidade antirracista? Temos!

E por que esse tipo de instituição é importante? Para fazer aquilo que as instituições de ensino convencionais ainda não conseguiram

Por Tatiana Lagôa
Publicado em 18 de abril de 2022 | 11:19
 
 
 
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Uma educação totalmente antirracista e que dê espaço adequado para a cultura negra em um país onde pensadores negros nem sequer são estudados nas universidades é possível? Sim! E vários passos já têm sido dados nesse sentido, apesar das resistências enfrentadas. Uma das iniciativas que eu gostaria de destacar aqui é a Universidade Livre de Sociologia e Educação Afro-Brasileira (Unafro).  

Essa instituição nasceu na pandemia, no dia 20 de novembro de 2020, e já tem dez cursos livres no histórico. Aí você deve estar me perguntando: “espera aí, Tati, qual é a diferença entre essa universidade e as demais?”. E eu te respondo: ela é totalmente diferente e muito igual ao mesmo tempo. Deu nó aí? Então vamos por partes. Primeiro vamos nos pontos de similaridade com as demais instituições de ensino. A Unafro tem no corpo docente mestres e doutores superespecializados no que vão ensinar, assim como nas demais. Ela é um espaço de replicar o saber, de extremo conhecimento e partilhas ricas, como nas outras universidades.  

Então, afinal, o que a torna tão diferente? Todo o resto. Primeiro, que o foco dessa instituição não é necessariamente o mercado de trabalho. Quando fazemos o curso de direito, por exemplo, queremos seguir uma carreira nessa área. Lá na Unafro, você se forma enquanto pessoa e cidadão e reforça o conhecimento sobre a própria história e passa a entender mais sobre o momento em que vivemos.  

Na última terça-feira, eu bati um papo com a Eliane de Souza Almeida, uma das professoras da Unafro, em uma live feita no meu Instagram. Uma mulher negra, de 50 anos, que tem duas filhas, cursa o segundo doutorado e já rodou muito na vida. Segundo ela, os cursos da Unafro conseguem fazer com que os alunos entendam “o papel que temos dentro da democracia, porque precisamos falar sobre racismo e entender da Constituição Federal”. “Nossos cursos têm objetivo de formar e informar para você entender o papel que tem no mundo e como o racismo nos atinge”, explica.  

Outra proposta diferente da Unafro é a metodologia de ensino. “A gente busca, a partir do pensamento criado por pessoas negras na Academia no Brasil, na América Latina, na África e em outros países da diáspora, construir uma nova forma de educar. Temos pensamento de circularidade. Não temos reuniões, mas giras de conversas que colocam todas as pessoas dentro do mesmo nível. A gente entende que o processo de construção continua, e o professor é mestre daquilo que especificamente ele estudou, mas não quer dizer que ele não aprenda com os alunos”, conta. Em uma universidade que quer espalhar os saberes da negritude, inclusive, faz muito sentido buscar um método de ensino próximo dos chamados “griôs”. A palavra “griô” tem origem na tradição africana e é usada para designar replicadores da tradição oral, da partilha de conhecimentos.  

E por que esse tipo de instituição é importante? Para fazer aquilo que as instituições de ensino convencionais ainda não conseguiram: ensinar mais sobre nossas origens, dar voz a pesquisadores negros ignorados em muitas universidades e nos ajudar a reduzir o racismo. Até porque a informação e o conhecimento são importantes armas contra qualquer mazela.

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