RICARDO CORRÊA

Dura vida de militante

Redação O Tempo


Publicado em 11 de março de 2017 | 04:30
 
 
 
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Está ainda mais difícil, em tempos atuais, a vida de militante, seja por adesão voluntária ou por remuneração. Defender com unhas e dentes aquele político ou partido que você admira ou tem ligações representa muitas vezes driblar a realidade, aplicar dois pesos e duas medidas e lidar com incoerências que só o fanatismo não enxerga.

Nenhum caso é tão emblemático quanto o debate sobre o processo que pode levar à cassação da chapa formada por Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB) nas eleições de 2014. Uma ação que coloca PT e PMDB no mesmo barco, empurrado para uma tempestade em alto mar pelo PSDB, hoje aliado íntimo de um deles. Estar em qualquer um dos lados dessa história significa desprezar a coerência em grande medida.

Após ver o PT defenestrado do poder, imensa parcela da militância vermelha vibra com as notícias que complicam Michel Temer e, consequentemente, a chapa na ação do TSE. Enxergam e exaltam em redes sociais e em qualquer microfone que esteja disponível a necessidade de que a Corte Eleitoral faça a sua parte e tire o presidente de seu cargo com a máxima urgência. Isso necessariamente, porém, significa reconhecer a sujeira que tomou conta das campanhas que levaram Dilma ao poder. Não há outra interpretação possível: ou foi tudo certo e Temer não pode ser cassado, ou ele sai, mas o PT e seus militantes reconhecem que a legenda roubou para ganhar as eleições.

No caso do PMDB e dos defensores do presidente, não adianta vir com a história de divisão de responsabilidades da chapa. Temer já disse por diversas vezes que foi eleito junto com Dilma Rousseff e que os votos dela são os dele. Se tais votos foram obtidos com a ajuda de dinheiro ilícito, não servem a nenhum dos dois. Ou Temer é legítimo por ter sido eleito e, neste caso, responsável pelas mazelas daquela campanha, ou é mesmo um presidente ilegítimo como dizem os petistas.

Pior ainda é o caso do PSDB. Como defender a presença de diversas figuras da legenda e o apoio incondicional ao governo demonstrado por alguns de seus principais caciques se o partido considera que foi ilegal a eleição de Dilma e, consequentemente a de Temer também? Como é que o militante do PSDB conseguirá explicar que a legenda aceita fazer parte de um governo que teria tomado o poder de forma desonesta, usando de abuso de poder econômico na campanha de 2014? Ou os tucanos admitem que aceitam a roubalheira em troca de cargos, ou terão que dizer com todas as letras que nunca enxergaram ilicitudes na campanha de 2014 e só cobraram a cassação da chapa Dilma-Temer pois não souberam perder.

Exemplos da incoerência de todas as partes que se manifestam no processo político brasileiro são inúmeros. Valem para os militantes que vociferam quando saem delações contra uns e a desqualificam quando atingem a outros; aplicam-se aos que atacam ou defendem a política econômica de Henrique Meirelles, ignorando que foi presidente do Banco Central no governo do outro; servem para os que detonam as escolhas de ministros como Eliseu Padilha, Romero Jucá e Moreira Franco, que estão no poder com PSDB, PT ou PMDB; ou os que exaltam a voz das ruas, mas morrem de medo de antecipar uma eleição direta para presidente.

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