RICARDO CORRÊA

O PSDB não aprende

Redação O Tempo


Publicado em 26 de agosto de 2017 | 03:00
 
 
 
normal

O PSDB teve grandes chances de voltar à Presidência República, ocupada pelo partido com Fernando Henrique Cardoso entre 1995 e 2002. Falhou em todas mais por incapacidade do que por méritos dos adversários petistas. Para 2018, os tucanos caminham para outro fracasso se não houver uma mudança sensível na forma com que o partido enxerga a chance de chegar ao poder.

Em 2006, Lula vivia momento difícil. Havia saído bastante desgastado da revelação do mensalão e, apenas um ano depois, enfrentaria uma disputa à reeleição com chances reais de derrota. À época, José Serra, Aécio Neves e Geraldo Alckmin passaram a disputar palmo a palmo a candidatura pelo partido. Embora tenha levado a melhor na guerra dentro da legenda, Alckmin nunca teve apoio pleno dos outros dois tucanos. Tanto que, em Minas, fala-se bastante do voto Lulécio. Afinal, o então governador de Minas, na disputa pela reeleição, sempre deixou claro que, àquela época, Lula era seu “chapa”, como chegou a dizer em entrevistas.

Veio 2010, e o PSDB novamente encontrou uma chance de retomar o comando do país. Lula deixava o governo e, embora altamente popular, teria a difícil missão de transferir votos a uma candidata desconhecida e de pouca articulação. Mais uma vez os três grandes nomes do PSDB se engalfinharam. Foi assim principalmente com Serra e Aécio. O resultado: Dilma venceu apesar de todas as suas limitações na campanha.

Em 2014, o partido teve a melhor chance de todas de chegar ao comando do país. Aécio foi o escolhido e teve votação expressiva em São Paulo. Parecia que, enfim, o PSDB estava no caminho certo. Perdeu por pouco, mas, depois daquela campanha quase histórica, todos os tucanos naufragaram em uma estratégia equivocada de radicalização, ao mesmo tempo em que iam sendo tragados pela Lava Jato.

Alckmin, apesar de também ter sido citado em acusações na operação, saiu quase ileso. Muito forte, principalmente considerando-se que Serra perdeu protagonismo e Aécio foi varrido por diversas delações e envolvimento em escândalos. Enquanto os dois viviam seu calvário, Alckmin tinha tudo para se fortalecer. Ao peitar outros caciques da legenda e eleger João Doria no primeiro turno, mostrou que seu poder político estava em alta.

Mas aí a criatura passou a querer superar o criador. Doria, cheio de pressa, passou a agir como candidato em 2018. Fazendo viagens, dando declarações dúbias e utilizando todo o dom da comunicação que tem para ganhar terreno e dividir novamente o PSDB. Parece uma sina dos tucanos estar sempre em duas canoas. Com isso, mais uma vez, corre-se o risco de nenhuma delas chegar ao outro lado do rio.

Somam-se a isso a insistência de Aécio em comandar a legenda e a guerra total entre dois grupos sobre ficar ou não no governo. O PSDB coleciona más notícias nos jornais todos os dias e, agora, já deixou de ser considerado a principal alternativa ao que passou-se a chamar de lulopetismo no Brasil. Seja nas pesquisas, nas quais Jair Bolsonaro é quem polariza com o ex-presidente, seja no debate partidário, que já coloca antigos aliados, como o DEM, por exemplo, com chances de lançar candidaturas. Se não se unir, o PSDB, desse tamanho todo, será carta fora do baralho.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!