RICARDO CORRÊA

PT e Bolsonaro

É enorme a possibilidade de um segundo turno entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad


Publicado em 06 de outubro de 2018 | 03:00
 
 
 
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A se confirmarem as pesquisas de intenções de voto, é enorme a possibilidade de um segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Embora esteja crescendo a cada levantamento, o capitão da reserva precisaria de uma arrancada espetacular nas últimas horas para conseguir cumprir o sonho de seus apoiadores: uma histórica vitória em primeiro turno.

Se isso acontecer, ou mesmo se Bolsonaro for vitorioso, estará cumprida uma profecia que muitos fizeram quando, lá atrás, o PT escolheu se manter dono da esquerda em vez de impedir que um projeto de outro viés ideológico chegasse ao poder. Desgastado por anos no governo e bombardeado por denúncias de corrupção, o PT não abandonou a soberba. Aniquilou os rivais que tentavam buscar vias em seu campo e, agora, parece estar em desvantagem no duelo com uma força nova, diferente do PSDB, com quem se acostumou a duelar.

Além dos erros que cometeu quando esteve à frente do país, o PT começou a construir uma possível vitória da extrema direita representada por Bolsonaro na eleição anterior. Naquela ocasião, massacrou Marina Silva (Rede) na televisão, empurrando uma candidata que historicamente tinha posicionamentos mais próximos dos seus para a centro-direita. Marina foi desconstruída de forma brutal pelo simples fato de que o partido que ocupava o poder preferia enfrentar mais uma vez o PSDB na segunda etapa.

A estratégia deu tão certo que o PT achou que poderia fazer o mesmo em 2018. Dessa vez, o alvo era Ciro Gomes (PDT), que dividia com os petistas as atenções na centro-esquerda. Ocorre que o partido atuou politicamente para não precisar massacrar na TV um nome que certamente poderia ter a seu lado no segundo turno. Antes mesmo de começar a campanha, o time de Lula e companhia atropelou as articulações pedetistas, garantindo a neutralidade do PSB e avacalhando palanques regionais de seu aliado país afora.

Ciro resistiu o quanto foi possível, mas chega às eleições com remotas chances de alcançar o PT. Nas redes sociais, uma enorme onda em torno de sua candidatura vai se formando, mas, com poucas horas para a abertura das urnas, é improvável que qualquer mobilização consiga furar a bolha para chegar efetivamente à imensa base de votos que define uma eleição.

O PT seguiu à risca seu projeto. Trabalhou com afinco na transferência de votos de Lula para Haddad, adiando ao máximo a troca da candidatura. Com Ciro desidratado na TV e nos Estados, e Marina ainda sofrendo os efeitos da aniquilação de 2014, reinou absoluto na esquerda como queria. Não contava, porém, que a estratégia de enfrentar o PSDB novamente e igualar as rejeições dos dois partidos que mais ocuparam o poder desde a redemocratização falharia na outra ponta.

Jair Bolsonaro atropelou o tucano Geraldo Alckmin e tornou impossível o crescimento de qualquer candidatura de centro. Poupado pelo PT e sua estratégia de domar a esquerda a qualquer preço, Bolsonaro tornou-se uma rocha aparentemente inquebrável. Atarefado em resolver a onda antipetista, o partido de Haddad agora corre o grande risco de ser o principal responsável por uma possível eleição de Bolsonaro, ainda que militância vá culpar a Justiça e, principalmente, os demais candidatos à esquerda, como Ciro, que tem muito mais chance de enfrentar a direita.

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