Para o pesquisador de religiões José Lázaro Boberg, Paulo possivelmente nasceu no ano 5 d.C., na antiga cidade de Tarso, a qual pertence nos dias atuais à moderna Turquia. Segundo ainda esse biblista, as epístolas paulinas são caracterizadas, sobretudo, pela influência do gnosticismo cristão, isto é, espécie de seita cristã primitiva que prega a existência de um cristianismo esotérico, místico, iniciático e espiritualista.

De fato, as cartas de Paulo consubstanciam-se em ensinamentos originários diretamente do “Khristós”, o qual só foi despertado ou conhecido (“gnosis”) por esse discípulo a caminho de Damasco, na Síria. Assim, e nesse sentido, “Khristós” (verbo ou logos) é uma espécie de princípio divino espiritual imanente e universal que habita todos os seres humanos encarnados na Terra. Nessa ótica, Paulo ensina ao povo de Corinto: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1Co 3:16). Nessa mesma linha gnóstica, Paulo confirma, mais uma vez, a imanência do Cristo ou do “verbo” nos seres humanos, vejam: “Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2: 20).

Lembramos, ainda, que os ensinamentos paulinos não são originários de Jesus de Nazaré, ou seja, não são advindos do homem biológico filho de Maria e José, pois suas revelações são originárias diretamente da manifestação ou do despertar imanente do “Khristós”. Confiram: “Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Cristo” (Gl 1:11-12). Fica claro, por conseguinte, que o Apóstolo dos Gentios realmente nunca conheceu a pessoa humana de Jesus de Nazaré, o que, sem dúvida, confirma que suas revelações gnósticas não são advindas das pregações públicas realizadas pelo Jesus histórico que nasceu em Belém.

Ressaltamos, ainda, que os cristãos gnósticos sempre defenderam, em seus ensinamentos, que a ressurreição somente pode atingir o corpo espiritual. Assim, essa linha espiritualista condenava, desde o início da cristandade, a ressurreição da carne e do sangue, a qual, lamentavelmente, ainda é defendida por grande parte da tradicional cultura judaica, católica e evangélica.

Não obstante a enorme influência do materialismo judeu, Paulo sempre condenou em suas cartas a ressurreição do corpo carnal, pois, para ele, a ressureição atinge apenas o corpo espiritual. Vejam: “Semeia-se corpo natural, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual” (1Co 15:44). Em outra passagem bíblica, Paulo condena, mais uma vez, a ressurreição do corpo físico ao afirmar que “a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção” (1Co 15:50). Lembramos, por fim, que as cartas gnósticas paulinas nunca se fundamentaram nos Evangelhos canônicos, porque esses ainda simplesmente não existiam.