Ricardo Lebourg Chaves

Êxodo, pestes, raças e a Covid-19

Pentateuco e o contexto das tragédias bíblicas


Publicado em 17 de agosto de 2020 | 03:00
 
 
 
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Para a tradicional e milenar cultura semítica, o Pentateuco representa, no universo sociorreligioso, os cinco livros que compõem a estrutura literária e profética do Velho Testamento. Assim, e historicamente, a Torá é composta, como sabemos, pelos livros de Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Não obstante a importância atribuída a essas obras divinas, inúmeras são as contradições religiosas no que se refere à sua autoria, bem como à época em que foram escritas. De fato, não se sabe com absoluta exatidão temporal quando e quem escreveu o Pentateuco hebraico.

Apesar das divergências doutrinárias, esses livros podem ter sido escritos pelo profeta Moisés, no século XV a.C., com base em experiências pessoais e espirituais em teofania. Nesse sentido, o Livro de Êxodo narra, em seu conteúdo sagrado, como o povo israelita deixou a escravidão no Egito para seguir rumo à Terra Santa, na região de Canaã.

Conforme alguns teólogos, a principal característica divina desse livro é representada, sobretudo, pelas pragas, doenças e pestes que atingem o povo egípcio por ordem de “Yahweh”, ou seja, o Deus todo poderoso do judaísmo, vejam: “Disse o Senhor a Moisés: Tomai vossas mãos cheias de cinza do forno, e Moisés a espalhe para o céu diante dos olhos de faraó; E tornar-se-á em pó miúdo sobre toda a terra do Egito, e se tornará em sarna, que arrebente em úlceras, nos homens e no gado, por toda a terra do Egito” (Êx 9:8-9).

É nesse contexto de tragédias bíblicas e patológicas que podemos enquadrar, sem dúvida, a significativa crise que atinge a saúde pública mundial. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o novo coronavírus foi recentemente descoberto por uma equipe de infectologistas na cidade de Wuhan, a qual pertence à província de Hubei, na China Central.

Para grande parte da comunidade científica brasileira, o coronavírus constitui, de forma inegável, uma grave emergência de saúde pública internacional, pois a atual pandemia de Covid-19 tem contaminado, de maneira geral, crianças, jovens, adultos e idosos, e seus principais sintomas são comumente manifestados na forma de tosse, febre, cansaço e extrema dificuldade respiratória.

Por conseguinte, o coronavírus tem se revelado, de fato, um vírus bastante perigoso e, muitas vezes, letal para os seres humanos de tal sorte que várias nações foram obrigadas a decretar, nos últimos meses, estado de quarentena e lockdown com o objetivo de conter o sério avanço epidemiológico.

Recentemente, o Ministério da Saúde divulgou que a raça negra ou parda está mais suscetível a ser contaminada pela Covid, pois as aglomerações populares em favelas e subúrbios facilitam muito a contaminação pela via respiratória. Malgrado esse lamentável diagnóstico étnico-racial, não podemos esquecer-nos de que a atual pandemia de Covid-19 vem atingindo e matando, indiscriminadamente, negros, brancos, amarelos e índios em todo mundo.

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