Ricardo Lebourg Chaves

O Evangelho Cristão “Q” ou a Fonte “Q”

Discussão sobre origem dos escritos sagrados

Por Ricardo Lebourg Chaves
Publicado em 11 de maio de 2020 | 03:00
 
 
 
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Muito se tem discutido, ao longo da história da cristandade, sobre as verdadeiras origens dos escritos sagrados atribuídos aos evangelistas Mateus e Lucas. De fato, não sabemos com exatidão histórica nem bíblica quais são as bases literárias cristãs que foram utilizadas, como fonte de pesquisas, para se escreverem os ensinamentos revelados pelo “Khristós”. É nesse contexto histórico, bíblico e literário que podemos enquadrar, sem dúvida alguma, o Evangelho “Q”, o qual é também conhecido, nos meios acadêmicos e teológicos, como Fonte “Q” ou Documento “Q”.

Conforme alguns pesquisadores ligados à fé cristã primitiva, esse evangelho foi realmente utilizado como fonte de estudos para se escreverem os Evangelhos canônicos apenas atribuídos ao apóstolo Mateus e ao evangelista Lucas. Assim, a Fonte “Q” é, de fato, um material literário e espiritualista de autoria desconhecida muito similar ao Evangelho Gnóstico de Tomé e que remonta aos escritos cristãos considerados genuinamente de primeira geração. Segundo os ensinamentos do biblista Burnett Hillman Streeter, o Documento “Q” foi escrito originalmente em língua grega, bem como tinha um estilo literário fundamentado em aforismos, provérbios ou axiomas atribuídos a Jesus. Devemos ressaltar, ainda, que esse evangelho consiste no material literário de conteúdo comum e coerente encontrado, simultaneamente, nos Livros de Mateus e Lucas. Percebam, portanto, que esse fato histórico e literário comprova, de certa maneira, que a Fonte “Q” foi realmente utilizada como instrumento de estudos para a elaboração de grande parte dos Evangelhos sinóticos.

Além disso, e para o biblista José Lázaro Boberg, a Fonte “Q” revela, igualmente, um estilo literário totalmente distinto dos escritos atribuídos a Mateus e Lucas, pois o Documento “Q” não se baseia, em hipótese alguma, no estilo literário narrativo presente, em grande parte, nos evangelhos tradicionalmente oficializados pela Igreja. Ressaltamos, ainda, que esse manuscrito muito pouco conhecido pelo povo cristão não faz nenhuma menção, em seu conteúdo sagrado, sobre a crucificação e consequente ressurreição carnal do “Khristós”, o que é perfeitamente compatível com os ensinamentos que constam dos papiros coptas e gnósticos encontrados em Nag Hammadi, no Egito. Lembramos, igualmente, que as epístolas gnósticas paulinas também não se referem à ressurreição do corpo físico, uma vez que a ressurreição, para Paulo, atinge tão somente o corpo espiritual. Vejam: “Semeia-se corpo natural, ressuscitará corpo espiritual (1Co 15:44).

Por fim, não podemos nos esquecer de que os Evangelhos canônicos foram impostos, de forma totalitária, pelo Império Romano e pela Igreja ao povo cristão. Além disso, a Fonte “Q” e os pergaminhos gnósticos também revelam, claramente, que os livros oficializados foram, ao longo dos séculos, maliciosamente adulterados pelas Igrejas Católica, Evangélica e Protestante.

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