Opinião

O profeta Mani e o maniqueísmo cristão

Ensinamentos éticos, morais e divinos continuam ecoando no mundo


Publicado em 18 de janeiro de 2021 | 03:00
 
 
 
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De acordo com a moderna “Encyclopaedia Britannica”, o profeta Mani ou Manes nasceu provavelmente no ano 216 d.C., e na cidade de Ctesifonte, a qual se localizava na antiga região da Mesopotâmia. Para alguns pesquisadores do cristianismo primitivo, Manes é, de fato, considerado um importante profeta de origem iraniana e fé cristã, pois ele fundou, no século III, o maniqueísmo persa e babilônico.

Assim, o maniqueísmo é, no universo sociorreligioso, uma espécie de seita filosófica e espiritualista que concilia, ao mesmo tempo, revelações divinas vinculadas ao judaísmo, ao cristianismo, ao zoroastrismo, ao hinduísmo, bem como ao budismo. Por conseguinte, Mani procurou, sobretudo, aperfeiçoar os ensinamentos éticos, morais e divinos que foram revelados por Moisés, Jesus, Zoroastro e Buda. Além disso, essa filosofia iniciática e sincrética também se baseia, em grande parte, no dualismo, ou seja, espécie de doutrina sagrada que dividia o mundo entre o bem (Deus) e o mal (matéria).

Conforme ainda alguns teólogos contemporâneos, os ensinamentos desse profeta estão, sem dúvida, ligados à diversidade de cultos e de crenças religiosas que reinava no cristianismo primitivo, pois, como sabemos, a fé cristã primitiva nunca foi um movimento religioso harmônico, homogêneo, unidimensional e, muito menos, monolítico.

Em virtude dessa variedade espiritualista, a filosofia desse vidente acabou chegando a vários países do Oriente Médio, da Ásia e da África, e seus ensinamentos foram escritos em várias línguas, como, por exemplo, a aramaica, a hebraica, a grega, a chinesa, a cananeia e a maniqueia. Ademais, não podemos esquecer-nos de que santo Agostinho de Hipona foi, no início de sua vida religiosa, um notável seguidor da doutrina maniqueísta, o que revela, sem dúvida, a importância dessa filosofia para sua época.

Recentemente, vários arqueólogos encontraram em Assiute, no Egito, o “Codex Manichaicus Coloniensis”. Segundo esse pergaminho sagrado, Manes foi, ainda, seguidor da “elkasaitas”, isto é, espécie de seita judaico-cristã com forte tendência gnóstica que existiu na antiga Pérsia. Fica claro, assim, que esse profeta sofreu, positivamente, enorme influência do cristianismo gnóstico.

Por causa de seus aspectos sincréticos e ecumênicos, os devotos do maniqueísmo persa e babilônico acabaram sendo vítimas de inúmeras perseguições políticas, religiosas e econômicas por parte do Império Romano. Nesse mesmo contexto, os escritos maniqueus foram, lamentavelmente, qualificados como hereges pela tradicional e intolerante ortodoxia católica, evangélica e protestante. Por fim, Manes faleceu crucificado no século III, na cidade de Gundeshapur, a qual pertencia ao extinto Império Sassânida. Não obstante a sua morte na cruz, os ensinamentos éticos, morais e divinos desse profeta persa e cristão continuam, até os dias atuais, ecoando por todo mundo ocidental, oriental e asiático. 

 

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