RICARDO PLOTEK

Não basta só chorar!

Redação O Tempo


Publicado em 31 de janeiro de 2015 | 04:00
 
 
 
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Dentre tantas mazelas da condição humana, o racismo é uma das mais repugnantes, mas é uma coisa que existe e que sempre existirá. Não tenho essa visão ingênua de que é preciso combater essa questão para que, um dia, não haja mais racismo. Mas é necessário usar das ferramentas civilizatórias para diminuir ao máximo sua incidência, seja pela conscientização dos mais ignorantes ou pela coerção que as leis podem propiciar. Não basta só chorar!

O que aconteceu com a jogadora de vôlei Fabiana, no Minas, nesta semana, foi horrível, ainda mais com a família dela presente, mas a discussão não termina e realmente não deve terminar aí.

O “suposto” agressor da atleta, que “teria” desferido contra ela injúrias racistas, foi expulso do ginásio, foi identificado em um boletim de ocorrência e vai, pelo que tudo indica, ser apenas impedido de frequentar os jogos do clube de Belo Horizonte. Parece muito pouco!

Apesar de se dizer indignada, de contar com testemunhas dispostas a levar a coisa adiante e de ter dado entrevista na TV chorando – lágrimas mais que sinceras –, a jogadora, pelo menos até essa sexta-feira, havia dito que não pretende processar o homem em questão, um direito que ela tem, mas uma atitude contraditória.

Comodismo, espírito cristão, benevolência, resignação?

Receio pela repercussão não deve ter sido. Afinal de contas, ela, os pais, os clubes envolvidos, todos deram entrevistas e divulgaram notas repudiando o episódio, mas a única que poderia levar o caso a frente deixou pra lá. Repito, um direito que ela e qualquer outra pessoa tem, mas...

O lado positivo dessa história é que, embora ainda haja gente com esse tipo de comportamento, há também aqueles que já não aguentam mais.

Quem chamou a segurança do Minas para retirar o sujeito foram outros torcedores, que se viram incrédulos e revoltados com a situação. Inclusive, foram esses cidadãos, no melhor sentido da palavra, que fizeram o B.O., mas por desacerto verbal com o porteiro desempregado, pois não foram eles os alvos do problema. Eles “apenas” exigiram a retirada do homem que gritava e fizeram o registro da ocorrência, pois a segurança do Minas somente queria mudá-lo de lugar no ginásio.

Exemplo contrário ao desse caso aconteceu com o goleiro Aranha, que levou adiante o processo contra torcedores do Grêmio que o injuriaram racialmente, em Porto Alegre, quando o atleta defendia o Santos.

Sabemos que ninguém será punido com pena privativa de liberdade por injúria racista, ainda mais se for primário. Mas a dor de cabeça que essas pessoas terão poderá fazê-las pensar em nunca mais repetir essa ou qualquer outra atitude que confronte as leis.

Serão obrigadas a passar por um inquérito policial e, se indiciadas, deverão responder perante a Justiça, mesmo que sejam apenadas com doação de cestas-básicas ou trabalho comunitário. Fora o constrangimento perante a sociedade, algo que parece já não mais contar, pelo menos para muita gente.

Será que o presidente do Senado, Renan Calheiros, vai usar, novamente, aviões da FAB irregularmente e, só após ser descoberto pela imprensa, devolver o dinheiro equivalente à passagem em avião comercial? Já fez isso duas vezes, que saibamos, e parece não se constranger.

É preciso mais atitude. É preciso parar de “deixar quieto”. É preciso parar de dar segundas, terceiras, quartas chances a marmanjos.

O porteiro que se envolveu no caso desta semana tem 43 anos. Já está bem grandinho para responder pelo que faz.

Mineiro. Amanhã começa o Estadual, enxuto, exemplo para outros entes da Federação, mas muito fraco tecnicamente, com a grande maioria dos clubes do interior vendendo almoço para comprar jantar. Ontem, aos 45 do segundo tempo, o tradicionalíssimo e querido Villa Nova conseguiu verba da Prefeitura de Nova Lima para não abandonar o Mineiro antes do começo. E no ano que vem, como será? O apelo emocional do Leão é enorme.

Atenção Coelho! Com Cruzeiro e Atlético na Libertadores, o América tem tudo para aproveitar e chegar o mais longe possível na competição. A obrigação é a semifinal. Chegar à final seria muito legal e, ser campeão, sensacional. Se o Ituano conseguiu ser campeão paulista em 2014, o América pode bater de lado com Raposa e Galo. Quem sabe pelas beiradas, bem ao estilo mineiro, o alviverde surpreenda. Seria, no mínimo, diferente.

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