RICARDO SAPIA

É muita vergonha

Todo ano é a mesma conversinha fiada: o ano só começa quando acaba o Carnaval


Publicado em 08 de março de 2019 | 03:00
 
 
 
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Todo ano é a mesma conversinha fiada: o ano só começa quando acaba o Carnaval. Esta mania do brasileiro de colocar a culpa nos outros e principalmente nos governos virou um mantra nesse país.

Na verdade, o ano começou no dia 1º de janeiro, já tivemos mortes em “crimes” anunciados, como, por exemplo, Brumadinho e Ninho do Urubu, só para citar dois casos. Os pais dos garotos do Flamengo estão com a certidão de óbito com a data de 2019, assim como os parentes das vítimas da Vale.

O Brasil teve superávit comercial na ordem de R$ 30 bilhões em janeiro deste ano, o desemprego aumentou no mesmo mês, alguns exemplos para que você possa acordar e perceber que 2019 já começou e que, como todos os anos, já estão criando “datas” para melhorar o país.

Agora o mantra é a reforma da Previdência, que precisa ser aprovada para o país voltar a crescer e blá-blá-blá. É claro que a reforma precisa ser feita, e a oposição precisa parar de criar factoides e fake news e elaborar propostas para chegarmos a um consenso sobre uma nova Previdência, que traga segurança ao trabalhador e equilibre as finanças do país.

A Constituição de 1988, um erro, infelizmente, é responsável por grande parte da inércia da população. Vivemos em um país com regime presidencialista, mas que depende diretamente do Congresso para qualquer mudança na Constituição. Até o ato de governar depende de acordos e conchavos, nomeações de parentes no famoso “nepotismo cruzado”, é tudo muito vergonhoso. Está mais do que na hora de a sociedade civil organizada criar uma nova Constituição, em que o governo tenha mais autonomia e o Congresso Nacional seja desmascarado.

Vou citar como exemplo de mudança verdadeira a Coreia do Sul. Até o início da década de 60, o país asiático, oficialmente República da Coreia, era agrário e pobre, em uma península dividida ao meio pela guerra com a Coreia do Norte (1950-1953), com o trauma de mais de 1 milhão de mortos. Um em cada três coreanos era analfabeto, e boa parte da população passava fome. Apesar disso, em 40 anos, o país virou um “tigre asiático” e se tornou o 11º país em Produto Interno Bruto (PIB) – o Brasil é o nono. Hoje, oito em cada dez habitantes ingressam na universidade.

Para mudar, os coreanos revolucionaram todo o seu sistema educacional. O país entendeu que a chave para o êxito do ensino superior era concentrar recursos no ensino fundamental. Hoje, a Coreia investe 4% do PIB em educação, e todas as suas salas de aula são equipadas com computadores modernos, conectados à internet por banda larga. A internet é uma mania nacional, e o país, campeão mundial em fibras óticas e banda larga. Nove em cada dez residências no país usam a rede.

Uma administração centralizada supervisiona as escolas com uma política coerente de estímulos a professores e alunos. Os mais talentosos são incentivados com bolsas de estudo e cursos extracurriculares. Os professores estão entre os mais bem-pagos do mundo: um profissional experiente pode ganhar US$ 6.000 mensais, mas, se o aluno dele não aprende, o educador pode ser reprovado.

O Brasil podia se mirar nesse bom exemplo. Se é que isso interessa aos nossos políticos...

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