ROBERTO ANDRÉS

Escândalo no metrô

Redação O Tempo


Publicado em 10 de maio de 2018 | 03:00
 
 
 
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Amanhã vai ser outro dia no metrô de BH. Só que para pior. Hoje a passagem custa R$1,80 e dentro de poucas horas passará a R$3,40. A Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), ligada ao Ministério das Cidades, anunciou o aumento escandaloso, de 88%, esta semana. 

Nas grandes manifestações de 2013, disparadas contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo, apareceu o lugar-comum de que “não era só por vinte centavos”. Há um sentido correto nessa afirmação: o aumento da tarifa impacta a vida de todas as pessoas que moram na cidade, de maneiras às vezes insuspeitas.

O caso do metrô de BH ilustra bem esse ponto. Nos últimos anos a tarifa do metrô foi congelada, enquanto a dos ônibus subiu acima da inflação. O resultado foi que, na década entre 2002 e 2012, os ônibus em BH perderam 17% de seus usuários, enquanto a utilização do metrô cresceu 169%. 

Esses dados são apresentados no excelente livro O Ônibus, a cidade e a luta, do economista André Veloso. Entre as pessoas mais pobres, a diferença é ainda mais acentuada: na mesma década, os ônibus perderam 19% e o metrô cresceu em inacreditáveis 435% na faixa de renda mais baixa. 

Esse número é enorme, na contramão do período que foi marcado por grande migração para automóveis e motocicletas. Como o metrô de BH não construiu nenhuma nova estação recentemente, o que gerou aumento tão grande de usuários?

É a tarifa, cara pálida! Congelada por anos, a passagem foi se tornando uma alternativa cada vez melhor. Com a escalada das tarifas de ônibus, o metrô foi ganhando força, mesmo em situações que se precisa completar o trajeto a pé. 

Por isso esse aumento é violento: ele vai excluir do deslocamento urbano as pessoas mais vulneráveis, para quem a tarifa mais pesa. Mas o aumento é também ineficiente: ele vai expulsar usuários do metrô, gerando um alto custo para toda a cidade.

É importante ter em conta que a maneira como cada pessoa se desloca na cidade produz impactos em todos, em tempo no trânsito, acidentes e poluição. Automóveis e motocicletas geram os maiores impactos, enquanto ônibus geram poucos e metrô, quase nenhum. 

O problema é que os modos de deslocamento mais impactantes foram os que mais cresceram nas cidades brasileiras. A frota de automóveis dobrou em dez anos e a de motocicletas cresceu ainda mais. Na mesma direção, para o alto, foram os impactos, de modo que acidentes e poluição do ar matam hoje no Brasil em números de guerra civil. 

A calculadora de custo de viagem é uma ferramenta desenvolvida no Canadá, que compara os custos individuais (dinheiro gasto, tempo, riscos de acidentes) e custos sociais (poluição, acidentes, trânsito na sociedade) dos deslocamentos urbanos. Segundo a ferramenta, para cada viagem em automóvel que custa R$1,00 para o indivíduo, onera-se a sociedade em R$9, enquanto em ônibus esse ônus é de somente R$1,50 (a ferramenta não faz o cálculo para metrô, que gera menor ônus). 

Imagine agora o enorme custo social que será gerado por esse aumento nas tarifas de metrô, em BH e outras capitais brasileiras, visto que uma parte das pessoas deixará de se deslocar e outra passará a utilizar carro ou motocicleta, que geram grandes impactos.

Além de tudo isso, não custa lembrar que no ano de 2016 a arrecadação do metrô de BH foi de R$97 milhões enquanto o custeio, pela CBTU, foi de R$87,8 milhões. Sim, o metrô de BH é superavitário, o que só ocorreu porque a tarifa baixa atraiu usuários, aumentando a arrecadação pelo número de passageiros. 

Esse aumento violento, ineficiente e despropositado é realizado por um governo cujo presidente tomou o poder por vias duvidosas, tendo conspirado contra sua companheira de chapa e passado a adotar medidas que não seriam aprovadas nas urnas. 

Quais candidatos a presidência se propõem a rever esse aumento e retomar uma política consequente na tarifa dos metrôs?

Muita gente está indignada com o aumento. Uma ação foi protocolada no Ministério Público e há um protesto marcado para sexta-feira, 11, as 18h na Praça Sete. Divulgar e ir ao protesto é de grande importância. É a vida que será afetada, principalmente a dos mais pobres, mas também a daqueles que nunca colocaram os pés no transporte coletivo urbano.

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