Quando pensamos em física quântica, geralmente imaginamos partículas invisíveis, laboratórios futuristas ou até teorias sobre multiversos. No entanto, essa ciência tão misteriosa está começando a sair dos livros e laboratórios para chegar aonde menos se espera: na segurança pública.
A mesma tecnologia que promete revolucionar a Defesa Nacional pode — e deve — transformar a maneira como protegemos nossas cidades, combatemos o crime e cuidamos da vida dos cidadãos.
Imagine uma rede de comunicação entre viaturas policiais, centrais de inteligência e agentes em campo, impossível de ser interceptada ou clonada. Isso já não é ficção. A criptografia quântica permite detectar qualquer tentativa de espionagem em tempo real, com base no estranho princípio do emaranhamento quântico — quando duas partículas permanecem conectadas mesmo a quilômetros de distância. Qualquer tentativa de “espionar” um dado quântico altera sua estrutura, tornando a espionagem virtual praticamente inútil.
Por exemplo, a China realizou, em 2020, a primeira comunicação quântica via satélite entre dois pontos distantes a mais de mil quilômetros. Para a segurança pública, isso pode significar operações policiais mais protegidas contra interceptações e vazamentos, especialmente no combate ao crime organizado.
Hoje, câmeras de segurança são nossas principais aliadas na vigilância urbana. Mas e se pudéssemos ir além? Com sensores quânticos, já em desenvolvimento por instituições como a DARPA (agência de pesquisa avançada do Departamento de Defesa dos EUA), será possível detectar movimentos e objetos com precisão quase microscópica, mesmo em ambientes de baixa visibilidade ou obstáculos físicos — como túneis, subsolos ou construções densas.
Pense em operações em portos, aeroportos, fronteiras ou comunidades de difícil acesso. Sensores quânticos poderão identificar rotas clandestinas, esconderijos ou movimentações suspeitas com maior precisão e discrição.
A segurança pública também lida com grandes volumes de dados: denúncias, registros de ocorrências, imagens, deslocamentos e redes sociais. A computação quântica poderá analisar tudo isso em questão de segundos, simulando cenários, cruzando informações e antecipando padrões de risco com muito mais agilidade.
Alguns especialistas já falam em “prevenção preditiva baseada em qubits”, onde o sistema identifica situações potencialmente perigosas antes mesmo que o crime aconteça, com base em padrões complexos que seriam impossíveis de detectar com os sistemas atuais.
As tecnologias quânticas não se limitam à segurança pública. Elas prometem revolucionar setores como saúde, com diagnósticos mais rápidos e precisos por meio de simulações quânticas de moléculas e medicamentos; o meio ambiente, com sensores capazes de monitorar poluentes e mudanças climáticas em tempo real; e a comunicação, garantindo privacidade total para dados pessoais e financeiros.
No Brasil, ainda estamos nos estágios iniciais. Instituições como o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP), e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Informação Quântica, ligado ao CNPq, conduzem pesquisas avançadas na área, especialmente em comunicação e simulações quânticas.
O grande desafio é fazer a ponte entre pesquisa e aplicação prática, conectando universidades, agências de segurança e políticas públicas. Países como Alemanha, Canadá e China já possuem programas governamentais voltados à segurança pública baseada em tecnologias emergentes — e o Brasil precisa acompanhar esse movimento.
Assim como os drones, as câmeras inteligentes e os softwares de reconhecimento facial mudaram a forma de patrulhar e proteger, as tecnologias quânticas abrem uma nova fronteira de segurança urbana e digital — além de impulsionar o desenvolvimento sustentável e a inovação.
O que podemos perceber é que a física quântica está deixando de ser um tema de laboratório para se tornar parte das estratégias do mundo real. E, quando falamos de segurança pública — e de um futuro mais justo, inteligente e eficiente — ela pode ser a chave para um amanhã mais seguro e promissor.