O Brasil enfrenta uma crise silenciosa, mas de efeitos profundos: a mediocridade cognitiva. Isso ocorre quando deixamos de lado o pensamento crítico, aceitamos ideias prontas, explicações fáceis e soluções mágicas para problemas que, na prática, são complexos. Não é falta de inteligência, é falta de estímulo para pensar com profundidade. Esse fenômeno, muitas vezes invisível, é um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento do país.

Somos todos, em alguma medida, inclinados a evitar esforço mental. A psicologia chama isso de "cognitive miser", algo como um avarento do pensamento. O cérebro prefere atalhos, padrões conhecidos e decisões rápidas. O problema começa quando esse modo automático de raciocinar passa a dominar o debate público, as decisões políticas e até o comportamento social. Quando se pensa pouco, governa-se mal, fiscaliza-se pior e discute-se tudo como se fosse uma disputa entre torcidas.

Os reflexos estão por toda parte: no baixo desempenho escolar, na dificuldade de compreender textos simples, no descrédito da ciência, na repetição de erros na política e na economia. Segundo o PISA, avaliação internacional de educação, o Brasil segue entre os últimos colocados em leitura, matemática e ciências. E um estudo recente, feito com mais de 40 mil idosos na América Latina, revelou que a baixa escolaridade é hoje o principal fator de risco para o declínio cognitivo no Brasil, mais até do que idade ou condição de saúde.

Esse déficit não se resolve apenas com mais anos de escola. O problema é também cultural. Pensar com profundidade, ouvir o outro, duvidar, argumentar, mudar de ideia, tudo isso tem sido desvalorizado. Inclusive nas redes sociais, que favorecem o barulho em vez do conteúdo. Em muitos ambientes, inclusive institucionais, a lealdade pesa mais que a competência, e o volume de trabalho importa mais do que a qualidade do raciocínio.

Apesar disso, há sinais de mudança. Em áreas como o setor jurídico, a tecnologia e até mesmo em algumas academias de formação policial, cresce a valorização do pensamento crítico, da resolução de problemas e do uso mais estratégico da inteligência. Ainda são iniciativas inaugurais, mas mostram que é possível reverter esse quadro, desde que haja apoio e compromisso com mudanças reais.

A verdade é que um país que pensa pouco avança pouco. Repetimos decisões erradas, desperdiçamos talentos, alimentamos desigualdades e perdemos espaço num mundo cada vez mais complexo e competitivo. O desenvolvimento econômico, social e político depende de uma sociedade que sabe refletir, interpretar e decidir com base em evidências e não apenas repetir frases prontas.

Superar a mediocridade cognitiva exige investimento em educação de qualidade, sim, mas também um esforço coletivo para mudar nossa cultura de pensamento. Precisamos resgatar o valor do argumento bem construído, do diálogo informado, da dúvida honesta. Pensar dá trabalho, mas é justamente esse esforço que sustenta qualquer avanço verdadeiro. E enquanto o evitarmos, o país continuará andando em círculos.