A lógica do imediatismo tem guiado decisões públicas e sociais. Mas a pressa, quando desconectada de responsabilidade, mina direitos e enfraquece a democracia.
Vivemos uma era dominada por uma cultura hedonista, silenciosa, porém persistente, que orienta escolhas individuais e institucionais. A busca por resultados rápidos, visibilidade e prazer imediato tornou-se a métrica predominante, não apenas nas redes sociais e no consumo, mas também em decisões importantes.
Eficiência é muitas vezes confundida com velocidade. A ação ágil é exaltada, embora possa comprometer a sustentabilidade das soluções. No cotidiano, essa mentalidade se traduz em prioridades distorcidas, em que vitórias momentâneas são celebradas, mesmo quando geram consequências duradouras negativas. Soluções fáceis ganham protagonismo, enquanto planejamento de longo prazo, análise de custos estruturais e respeito a direitos fundamentais são deixados em segundo plano.
O desafio do nosso tempo é justamente redirecionar essa energia. O imediatismo, por si só, não é um mal, mas precisa ser canalizado para objetivos mais sólidos e coletivos. Isso exige práticas técnicas aliadas a ética, gestão de riscos, avaliação contínua de impacto e prestação de contas.
Quando a urgência se sobrepõe à complexidade dos problemas reais, corre-se o risco de encobrir fragilidades estruturais sob uma falsa aparência de eficiência. Medidas populistas e superficiais podem até gerar aprovação instantânea, mas não resistem ao teste do tempo.
É na intersetorialidade e na prevenção que residem as melhores respostas. Políticas públicas eficazes não nascem da reação imediata ao caos, mas da capacidade de compreender causas profundas e agir de forma coordenada. Avaliações de impacto social, com foco em equidade, são fundamentais para reduzir danos futuros e orientar investimentos com mais inteligência
A confiança pública precisa ser reconstruída com processos abertos, metas claras, comunicação acessível e auditorias independentes. O desempenho técnico deve andar lado a lado com a escuta da sociedade e o compromisso com valores democráticos. Afinal, a boa gestão não é medida apenas por indicadores, mas pela capacidade de proteger direitos e promover justiça.
Compreender riscos demanda mais do que leitura de dados. Requer sensibilidade às dinâmicas sociais, culturais e históricas. É possível transformar a lógica do agora em ferramenta de transformação real, aceitando que boas soluções levam tempo, diálogo e responsabilidade.
Superar a “tirania” do imediato é fundamental para restabelecer um pacto entre eficiência, justiça social e confiança pública. Só assim construiremos políticas capazes de resistir às pressões do presente e preparar um futuro sólido, forjando uma sociedade mais resiliente, equânime e verdadeiramente pronta para os desafios do nosso tempo.