Nova York é mesmo uma cidade que nunca dorme. Todos os dias, novos (ótimos) restaurantes surgem, chefs consagrados se reinventam ou caem implacavelmente, novos chefs talentosos aparecem, as tendências mudam e, claro, alguns ex-excelentes restaurantes fecham.
A crítica é implacável. A imprensa nova-iorquina escreve com o deboche de quem já viu de tudo. É fácil encontrar rótulos para o que surge aqui e ali. A lista dos dez melhores novos restaurantes do “New York Times” continua relevante e atesta os caminhos da cozinha da cidade, que na gastronomia (como em tudo) se renova o tempo todo.
A dupla Rich Torrisi e Mario Carbone (“Did it Again”), em seu Dirty French, ampliaram a fórmula – já consagrada no Parm, hamburgueria de polpetas e no Carbone, cozinha italiana – e, desta vez, vem com a cozinha francesa, entre a tradicional e a inventiva servida num ambiente kitsch-cool. Mais um sucesso da dupla na cidade (em conjunto com o Torrisi Italian Specialties), o Dirty French lembra os grandes restauranters de Nova York – ao lado de Daniel Boulud, Danny Meyer e Kaith McNally –, mostrando que a nova geração com poder aquisitivo, hoje com 25 anos, não quer jantar em lugares que sua mãe adora.
O caso de McNally é um exemplo. Com o seu posto de restauranter, símbolo da cidade – especialmente em downtown: Soho, Noho, Tribeca – , vem sendo questionado pela imprensa especializada. O Balthazar continua sendo um sucesso há quase 20 anos – a fama da recém-aberta filial no Covent Garden, em Londres, atesta a vitalidade da casa. O Morandi e o Schiller continuam tendo o seu lugar, mas McNally chamou atenção ao fechar duas casas no ano passado – uma delas é o Pastis. Por ter perdido o imóvel, o restaurante alavancou o Meatpacking Distric, foi cenário de “Melinda e Melinda”, de Woody Allen, e de episódios da série de TV, “Sex and The City”. O outro é a pizzaria Pullino’s, que estava no vermelho.
Novidades
Só mesmo num mercado exigente como o de Nova York é que uma pizzaria com o décor e a proposta da Pullino’s fecha as portas. Como todo mundo que é vidraça, as atenções se voltaram para o Cherche Midi, aberto no mesmo endereço, que teve uma reforma na casa de alguns milhões de dólares.
Com a proposta de trazer uma cozinha francesa descontraída, numa versão light do Balthazar, a nova casa pode não ter despertado a paixão da crítica, mas aguçou o público. Há espera de duas horas por mesa, além da aprovação da turma de 25 anos e a presença de celebridades como Meg Ryan e Ana Wintour em seus primeiros 15 dias.
A lista do “New York Times” premia o Batard, em Tribeca, que teria revitalizado o high-style dining para quem tinha saudades do antigo Montrachet. A lista ainda tem o Russ & Daugthers Cafe (no Lower East Side), o The Simone – trendy e vintage, segundo o jornal –, o Bar Bolonat (cozinha israelense contemporânea, outra grande tendência do mercado), os já citados Cherche Midi e Dirty French, e bate na tecla das duas novas paixões dos nova-yorquinos, os noddles bar (como o já consagrado Momonfuku) e o Ramen, especialmente no Ivan Ramen de Ivan Orkin (comentado nesta coluna no ano passado).
Num ano que Danny Meyer anunciou que vai fechar o seu Union Square Café – por décadas consagrado como o preferido dos nova-iorquinos pelo guia “Zagat” – , por negociação do aluguel, é evidente que a renovação pega no pé de chefs e restauranters que dormiram no ponto na cidade que nunca dorme.