SANDRA STARLING

Importunadores nos modernos meios de comunicação

Todos os textos parecem ter a ver com a 'injustiça contra Lula'


Publicado em 14 de fevereiro de 2018 | 03:00
 
 
 
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Durante muito tempo pensei que só gente famosa era importunada. Li relatos de Chico Buarque (lamentando que seu site tivesse sido, desde o primeiro momento, local privilegiado para quem não gosta dele); do casal Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank processando os preconceituosos que agrediam a garota negra que adotaram; e, agora, recentemente, na revista “Marie Claire”, da atriz Fernanda Torres queixando-se de hackers molestando sua mãe, a diva do teatro brasileiro, Fernanda Montenegro, e ela própria quando postou um texto reclamando dos excessos de certo feminismo.

Nunca pensei que fosse sofrer algo assim. Caí na besteira de responder – como sempre procurei fazer – ao conteúdo de um e-mail que me enviaram, e agora minha vida se tornou um interminável ritual de lançar fora inúmeras postagens da mesma pessoa.

No momento, a tal criatura insiste, mas eu também tenho quem me ajuda com o computador e nem leio uma só de suas postagens. Perda de tempo tentar. Todos os textos invariavelmente parecem ter a ver com a “injustiça contra Lula”. Há dias em que recebo, de uma só vez, cerca de seis e-mails. Já pedi, encarecidamente, que me deixe em paz. Até porque a condenação do ex-presidente e a novela se ele vai ser preso ou se vai se tornar inelegível têm sido objeto de intermináveis entrevistas com experts em leis, além de análises pró e contra, para todo gosto possível e imaginável.

Procurei ser, a vida toda, alguém que expressa com todas as letras o que pensa sobre o que se passa. Até revelei, no artigo da semana anterior, a única ocasião em que tive de me calar diante de assuntos mais polêmicos, em virtude da posição que ocupava: quando fui candidata ao governo de Minas no longínquo ano de 1982...

É profundamente desagradável ser assim importunada. Tenho filhos em vários cantos do mundo e fico ansiosa para o dia clarear e eu poder ter notícias deles por e-mail ou WhatsApp, mas é só ligar meus telefones e computador e lá estão as indesejadas postagens desse senhor.

O que leva alguém a fazer isso? Seria a solidão? Seria a intolerância? Seria não ter o que fazer? Ora sinto pena, ora fico impaciente, mas não há solução para isso. Fernanda Torres revelou que chegou a pedir providências ao Facebook, no caso da mãe dela, para ter a resposta de que eles nada poderiam fazer, pois qualquer providência não se coaduna com a “política” deles... No caso dela própria, acabou escrevendo um artigo desculpando-se pelo que havia escrito antes.

Não farei isso. A menos que esqueça tudo que vi, presenciei e soube por fonte na qual confio, minha posição a respeito dos governos petistas está consolidada. Não sou delegada de polícia, não mexo com provas, não sou promotora nem juíza, peço que não me importunem.

Afinal, não tem a menor importância o que penso ou deixo de pensar. Só quero compreender o que se passa no Brasil e não influenciar alguém.

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