A horrível impressão de ter voltado ao tempo dos governos militares

O “pacote” de d. Dilma e seus jovens ministros

Redação O Tempo


Publicado em 23 de setembro de 2015 | 03:00
 
 
 
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Afinal de contas, não é tão ruim assim ser mais velha e ter estudado ou vivido episódios da história do Brasil.

O anúncio do “pacote” do governo me fez voltar no tempo. Aliás, houve ali um momento muito interessante de verdadeiro ato falho: o ministro Joaquim Levy, ao citar exemplos no mundo de quem vem propondo medidas semelhantes, não teve como segurar e revelou: “aliás, como vem sendo feito por vários governos conservadores, a saber, o do ministro Cameron na Inglaterra, dentre outros”. Quer maior candura que isso? Os dois ministros, Levy e Barbosa, são absolutamente crus em matéria de informação histórica e jurídica. Mas os jornalistas que os interrogavam – com exceção apenas do último a perguntar – pouco sabiam sobre os assuntos que estavam sendo propostos.

O anúncio de um monte de medidas de uma só vez – ninguém no auditório se lembrou disso – produziu em mim a horrível impressão de ter voltado ao tempo dos “pacotes” dos governos militares. “Pacote de Abril”, para lembrar um que ficou célebre, quando Geisel mandou fechar o Congresso e mudou as regras do jogo eleitoral, para resolver o problema do resultado das eleições de 1974 (quando o MDB derrotou fragorosamente a Arena em todo o país). Pois o “pacote da d. Dilma” tem todas as características desse aí. Inclusive porque dificilmente passa no Congresso – a menos que ela se arrogue o direito de fechá-lo ou que os governadores e os prefeitos ajudem querendo o aumento da alíquota para tirar sua casquinha. Afinal, estão todos quebrados.

A chiadeira já começou mal terminou o anúncio das medidas. Um mundaréu de gente contra. A começar, é claro, pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro, que falou grosso em nome dos empresários contra a remessa de recursos do Sistema S para a Previdência Social. Memória curta tem d. Dilma. E ela, pela idade, deveria se lembrar. Foi no governo Figueiredo que aconteceu a primeira e única vez em que um decreto-lei foi editado e revogado no curto espaço de um mês. E o motivo, absolutamente idêntico ao de agora: seu governo tentou passar recursos do Sistema S para a Previdência e teve de recuar diante da gritaria dos empresários. Pegou mal também que o corte de gastos tenha vindo incompleto: quais ministérios serão fundidos com outros ou simplesmente desaparecerão? Antigos e malandríssimos políticos costumavam dizer que você nunca deve nomear quem não pode demitir. Como é que ela vai fazer para despachar os ilustres representantes da montoeira de representantes dos mais diferentes partidos que conformam o “cordão da bola preta” que a elegeu e garantiu a reeleição? A começar pelo próprio PT, que antigamente (ah, o PT de antigamente!) rejeitava qualquer cooptação de movimentos sociais com a criação de secretarias disso ou daquilo – como foi o caso em Minas, quando Tancredo Neves criou pela primeira vez, creio, uma Secretaria das Mulheres e entregou esse confeito de bolo para alguma sigla cooptável... Tristes tempos os de agora!

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