O inferno em que tem se tornado a vida de milhões de brasileiros

Quem sou eu para pautar jornalistas

Redação O Tempo


Publicado em 29 de julho de 2015 | 03:00
 
 
 
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Tenho a duras penas acompanhado o noticiário. Claro que isso nada tem a ver com qualquer ojeriza em relação à imprensa. Tem a ver com o que virou a pauta obrigatória: os desdobramentos da Lava Jato e as declarações de efeito apenas midiático de atores políticos da moda.

Para ser mais clara: quero que tudo que se passa nessa sucessão de escândalos seja tornado público, e muito bem público. Com a transparência com que durante as campanhas os candidatos prometem atuar na vida pública e que serve apenas de meio de propaganda para iludir incautos: uma vez eleitos, tudo vira “mentirinha”.

Acontece que, a não ser em números – frios números que escondem o que se passa na vida cotidiana –, pouco aparece sobre o inferno em que tem se tornado a vida de milhões de brasileiros. Vou dar exemplos (sem citar nomes por razões óbvias).

Uma conhecida minha, depois de labutar anos e anos e esperar ansiosamente por sua aposentadoria – que deveria ter começado a ser paga em maio deste ano –, foi informada de que só a receberá a partir de outubro. Com os atrasados, ela espera. Mas será isso apenas mais uma “pedalada”? Por que não se paga mais em dia aos que apresentaram todos os milhões de papéis que comprovam o óbvio da vida do trabalhador, ou seja, que deu duro a vida inteira, esperando um dia receber seus trocadinhos que mal dão para comprar seus remédios (os que não fazem parte da Farmácia Popular porque, mesmo esses, exigem o calvário de as receitas serem renovadas a cada dois meses pela equipe de “médicos da saúde”).

A quantidade de “viúvas de maridos vivos” cresce a cada instante a meu redor. Num desses casos, o pobre coitado mora em Uberlândia e só vem para casa ver a mulher (ou viúva?) e o filho a cada 30 dias e ainda está sendo pressionado a aceitar a diminuição de sua jornada e de seu salário, para ser enquadrado no plano mirabolante de Dilma Rousseff.

E os desempregados? E os que estão tendo que refazer suas vidas, voltando para antigos endereços, levando consigo seus anos de trabalho e seus contatos comerciais a serem mantidos, se conseguirem?! Funcionalismo em greve aqui e ali, aqui e ali gente em filas para conseguir provar que tem que receber o seguro-desemprego e que também fez uma requalificação profissional. Gente lutando para conseguir reaver o Fies com o qual perseguem o antigo sonho de cursar uma universidade. Sofrimento, sofrimento, sofrimento, com nome, rosto e endereço de vida...

Queria ver minuciosamente descrito aquilo que Gonzaguinha tão bem soube gritar:

“É triste ver meu homem/ Guerreiro menino/ Com a barra do seu tempo/ Por sobre seus ombros.../ Eu vejo que ele berra/ Eu vejo que ele sangra/ A dor que tem no peito/ Pois ama e ama.../ Um homem se humilha/ Se castram seu sonho/ Seu sonho é sua vida/ E vida é trabalho.../ E sem o seu trabalho/ O homem não tem honra/ E sem a sua honra/ Se morre, se mata.../ Não dá pra ser feliz/ Não dá pra ser feliz...”

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