Já ouviram falar de atleta que fugiu da concentração? Claro! No vôlei é pouco comum, mas também acontece. Quartas de final da Superliga, primeiro jogando contra o oitavo. Lideramos a fase classificatória e tivemos o direito de decidir a sequência dos jogos. Primeiro fora e dois em casa? Primeiro em casa, segundo fora, e, se necessário, o terceiro em casa? Dentre as duas, a segunda foi a escolhida na ocasião.
Ganhamos o primeiro em casa e embarcamos para matar o segundo jogo na casa do adversário. Era de se esperar uma vitória do líder contra o último classificado em dois jogos. Time confiante e pronto para a guerra. Jogo amarrado, tenso, adversário rendendo bem e nos colocando em dificuldade. Como eu entro e saio da quadra muitas vezes, consigo participar mais do que está acontecendo no banco. Nesse dia em especial um “tititi” sobre a escapada de um atleta do hotel para a balada era o assunto do momento.
Jogando mal e “denunciado” pelo companheiro de quarto, não deu outra: derrota, atuação fora do padrão e indignação por parte dos companheiros de time. Tentamos blindar o “fujão” e conversar entre nós (atletas) sobre o ocorrido. Deu errado, a informação vazou, e a comissão técnica marcou uma reunião.
Nunca ninguém será o responsável direto por uma derrota no vôlei, um dos esportes mais coletivos que conheço. E assim começou a reunião, analisando os números, mostrando nossa ineficiência como equipe naquele dia. Porém, o grupo aguardava a reação do técnico, e alguns atletas gostariam de se manifestar sobre a infeliz escapada.
Com a palavra o professor: “Quem você pensa que é?”; “apostamos em você mais de uma vez”; “chegou gordo”, “estava machucado”, “já mandei embora jogador muito melhor do que você, só não faço isso agora porque não vou sacrificar um atleta mais novo”, “você é um moleque irresponsável”.
Logo após, cinco atletas falaram no mesmo tom. Papo reto sobre objetivos em comum. Reunião pesada, mas necessária.
Passamos em um jogo duríssimo em casa, ganhamos a semifinal, e o nosso amigo que pisou na bola foi o melhor jogador em quadra na final. Excelente roteiro para um filme, documentário.