Na minha terra, é Amigo Secreto. Aqui, Amigo Oculto. Acho o adjetivo usado pelos paulistas mais de acordo com a brincadeira. Afinal, secreto é algo que se sabe, mas que não se quer revelar, ou que se vai revelar na hora certa. Oculto é escondido, que não se pode ver.


De qualquer forma, a brincadeira é divertida, embora tenha alguns traumas. O inesquecível foi a vez, numa dessas festas de fim de ano, do meu prédio, em que ganhei um disco do Richard Clayderman. Imagina, aos 18 anos, querendo um disco do The Police... Nem pude disfarçar meu desapontamento.


Mas já tive belas surpresas, também. Aqui mesmo em BH, há alguns anos, meu amigo secreto Marcelo Fiuza encomendou um poema de Manoel Lobato para compor meu presente - um disco da Cat Power. Melhor impossível.


Na noite de segunda-feira, foi o nosso aqui do jornal. Quer dizer, não do jornal inteiro, mas de uma turma mais chegada. Foi ótimo, recebi um lindo presente, mas o que gostei mais foi do cartão, uma declaração de amor da minha amiga de verdade - nada oculta, nada secreta - Flávia.


E isso me deu inspiração para escrever sobre amigos explícitos nesta crônica que antecede o Natal. Acho conveniente falar deles num ano especialmente difícil para mim, em que precisei mais do que nunca de amigos, daqueles que são ótimas companhia, sim, divertidos, bons de papo, encantadores, mas que estão junto também nos momentos problemáticos.


E percebi que tenho um bocado. Justo eu que sempre fui de pouquíssimos. Minha primeira amiga foi minha irmã mais velha. Criança tímida e insegura, era Nana que me dava a mão para aliviar meus medos nas noites em que não conseguia dormir. Muitas vezes, me deixava ir para sua cama e só mudava para a minha, quando eu pegava no sono. Memé, minha outra irmã, foi a grande e única amiga da adolescência. Era com ela que compartilhava os meus segredos, as minhas dúvidas, os meus tormentos típicos daquela idade. Foi graças a ela que consegui vencer a timidez e dizer sim para ao pedido de namoro do Luizão, meu primeiro namorado, melhor amigo dela.


Nunca levei isso para psicanálise, mas ter minhas irmãs como primeiras amigas demonstra algo que para mim sempre foi muito claro. Tinha medo do mundo e, para sobreviver, arrumei uma solução doméstica. Era o que dava para fazer naquele momento. Os anos foram passando e, com o tempo, fui colecionando melhores amigos. Sempre poucos. Mas foi chegar em BH, para isso mudar - depois ainda me perguntam por que gosto tanto daqui.


Minhas irmãs continuam lá no Olimpo dos melhores amigos e, como não poderia deixar de ser, abrem a lista. Então, vamos a ela:


Às irmãs amigas: Nana e Memé,


Às amigas irmãs: Michele, Edna e Jana,


Aos amigos de todas as horas (além de ótimas companhias para horas felizes, são capazes de te resgatar do limbo): Soraya e Fabiano,


Aos que estão chegando: Lud, Lili e João,


Aos que parecem de outras vidas: Rodrigo e Flávia,


Sem vocês, tudo teria sido infinitamente mais difícil. Ou melhor, impossível. Feliz Natal!


Crônica originalmente publicada no dia 22/12/2010