SILVANA MASCAGNA

Eu acredito na molecada

Redação O Tempo


Publicado em 11 de maio de 2016 | 03:00
 
 
 
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“Nós apenas começamos”, disseram estudantes secundaristas, na sexta-feira, ao desocuparem a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), cumprindo uma ordem judicial que os obrigava a sair em 24 horas ou pagar multa de R$ 30 mil ao dia por pessoa. A ocupação, que durou quatro dias, foi uma forma de pressionar os deputados estaduais a instaurar uma CPI que investigue os desvios de recursos públicos destinados à compra de alimentos para merenda escolar de prefeituras e do governo paulista.

O recado foi dado. Ontem, foi aprovada a CPI da Merenda na Alesp.
Tudo na luta desses meninos me emociona: o fato de eles tomarem pra si uma missão que seria de todos nós; de não se amedrontarem diante do deputado/coronel truculento, exigindo respeito; de contagiarem secundaristas de várias partes do país, que começam a se mobilizar; de ganharem a solidariedade de estudantes de escolas particulares; de ousarem resistir; e não pensarem em desistir.

É um sopro de esperança num momento em que o país caminha para virar uma republiqueta, onde “partido político é meio de comunicação e divulgação de ação publicitária; Justiça é união de pessoas com objetivo de fazer política; e mídia é o poder responsável por condenar e inocentar pessoas e instituições”, como bem definiu meu amigo Duke no Facebook.

Uma republiqueta em que não se respeita o resultado de eleições, onde a Câmaras dos Deputados mais parece um circo, onde a Polícia Federal é capaz de deter 73 mulheres pelo simples fato de se manifestarem dentro de um avião contra dois deputados presentes no mesmo voo – a mesma PF que deixa solto um réu confesso.

Uma republiqueta que vai extinguir, entre outros, o Ministério da Cultura e o Ministério da Cidadania e vai dar uma banana para as poucas conquistas sociais até aqui alcançadas.</CW>
Por isso, a importância da luta desses meninos – sim, meninos, a grande maioria deles não atingiu a maioridade. Eles foram tratados como bandidos, como delinquentes, por aqueles que deveriam protegê-los, por aqueles que deveriam dar a eles educação e saúde.

Com essa segunda vitória – no ano passado eles conseguiram brecar o plano de “reorganização” escolar apresentado pelo governo, que acarretaria o fechamento de unidades e a transferência de milhares de estudantes – conquistada, os secundaristas de São Paulo são, neste momento, a resistência mais importante contra o retrocesso. Embora a luta deles seja uma questão específica do Estado de São Paulo, eles mostram para o Brasil como é que se faz.
E é bom todos ouvirem o recado da molecada. Como diz a música de Dani Black, feita especialmente para eles: “E nem me colocando numa jaula, porque sala de aula essa jaula vai virar”.

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