A importância da Libras para todos

Eu e meu marido gostamos muito de cervejas artesanais. Por esse motivo, sempre que possível, vamos a bares especializados para experimentar novos sabores. Num desses passeios, num bar com tema alemão, em meio a conversas e chopes, percebi que, na mesa ao lado, um grupo de surdos se divertia num happy hour silencioso.

Não gosto de prestar a atenção nas conversas alheias, mas notei que havia uma dificuldade na comunicação com o garçom, que, pelo estranhamento com a clientela incomum, começou a falar cada vez mais alto e devagar. Inutilmente, claro.

Eu os abordei em Libras, oferecendo ajuda. Em pouco tempo, estabeleci o paralelo entre o profissional e o grupo, com o qual, em seguida, troquei muitas ideias. Conversamos sobre várias coisas, entre elas os sabores das cervejas da casa, e, com base no que aprendo na coluna Cerveja é Cultura*, de minha amiga Renata Abritta, tentei explicar um pouco sobre o universo etílico.

No mesmo dia, meu marido falou algo que as pessoas costumam dizer em situações como essas: “que bom que você estava lá para ajudá-los”. Fiquei pensando muito a respeito, mas meu questionamento foi: “e se eu não estivesse lá?”. Por favor, não pensem que estou querendo dar importância à minha presença no local. Quero trazer para uma reflexão a importância da Libras para essas pessoas e para a promoção da cultura, do lazer, do conhecimento, da autonomia!

Luto pela obrigatoriedade da acessibilidade em todos os espaços, não só na educação e na saúde (o que já é um ganho para todos nós), mas também em bares, cinemas, bancos, motéis, feiras, farmácias. Afinal, a meu ver, a complexidade do ser humano vai muito além da prestação dos serviços básicos. Sei que meu desejo está longe de acontecer, mas, quem sabe um dia, as conversas de mesas de bar sejam mais democráticas e inclusivas. 

*Renata Abritta escreve aos domingos no jornal O TEMPO.