Muitas pessoas me perguntam o porquê de eu atuar na área da acessibilidade. Ao contrário do que muitos pensam, em minha família não tem ninguém com deficiência. Eu não tinha (até ingressar na área) nenhum amigo surdo nem cego. 

Minha escolha se deu simplesmente depois que percebi que minha primeira formação, o jornalismo, não abordava o assunto com a profundidade que eu acreditava ser necessária.

E, hoje, trabalhando nas duas áreas, de forma paralela e às vezes misturada, como faço aqui, na coluna, sinto-me muito feliz de perceber que posso não só dar voz a quem necessita de acessibilidade e de visibilidade, mas também contribuir com meus colegas jornalistas.

Uma de minhas maiores queixas em relação à atuação deles é o uso incorretos dos termos para se referirem à pessoa com deficiência. 

Um exemplo disso aconteceu há cerca de um mês, quando precisei ser incisiva com um repórter que queria usar o termo “surdo-mudo”. Ele insistiu, dizendo que o entrevistado dele surdo não falava. Logo, era mudo. Aproveitei para esclarecer que, como surdos não ouvem, não desenvolveram a fala como os ouvintes, mas que a falta de audição não compromete as pregas vocais deles. Disse a meu colega que, caso o entrevistado fosse de fato mudo, o correto seria ele se referir a como “surdo e mudo”.

Não é raro eu ter que explicar sobre o termo “deficiente auditivo”, que pode ser ofensivo para os membros da comunidade surda. Esses, mesmo tendo perda parcial da audição, preferem ser chamados de “surdos”. 

Mas o termo usado que mais me incomoda é “portador’. O ato de portar tem relação com algo temporal. Exemplo: “eu porto um guarda-chuva agora. Depois, deixarei de portar”.

Quando trabalhei em uma emissora de TV, aprendi a me abaixar ao conversar com alguém que usa cadeira de rodas ou com anões para olharmos nos olhos dessas pessoas. Isso é respeito.
E você? Já precisou mudar algo em sua conduta para lidar com alguém  diferente?