Já pensaram em quantas pessoas ao nosso redor convivem com algum tipo de necessidade especial? Sim, quero usar exatamente esse termo e ser o mais abrangente possível.
Quero que pensem em seus colegas de trabalho, nos parentes distantes, nos vizinhos, nos professores e nas demais pessoas que, na opinião de vocês, desviam-se do que a maioria de nós chama de “normalidade”.
Para ilustrar o que quero refletir na coluna de hoje, quando estava no ensino médio, na minha turma tinha a Amanda. Não me lembro de ter ouvido a voz dela nenhuma vez sequer. Lembro-me, porém, de que, em todas as provas, de todas as disciplinas, ela tirava nota máxima. Até que chegou um dia em que precisamos fazer uma apresentação de trabalho. Todo mundo tinha que ir à frente da turma e explicar uma parte. Quando chegou a vez da Amanda, ela não disse nada. Ficou estática e, por ter sido alvo de todos os olhares da turma, começou a fazer xixi ali mesmo. Tempos depois, descobri que ela tinha o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Até então, ela era só a “Amanda doidinha”.
Às vezes eu me questiono: será que tive paciência com ela? Será que fui tolerante? Será que respeitei sua condição? Talvez, por ela ter o TEA tão em evidência e com o aporte de professores, sim. Mas e com as outras milhares de Amandas que já passaram por mim? Penso nas demais Amandas em que o Autismo, o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), a bipolaridade e até mesmo a depressão, me pareceram apenas características de pessoas lentas, ansiosas, estranhas e agressivas e me fizeram perder a chance de conhecê-las (e compreendê-las melhor).
Acho que temos mais facilidade em prestar ajuda àqueles cuja a diferença está mais aparente. Um cego, um cadeirante, um idoso, um amputado… Já com aquelas pessoas que não entendemos bem, sinto que temos uma tendência em relativizar e, automaticamente, incluí-las no grande rol dos “doidinhos”.
Ao fazermos isso, além de não tratá-los de acordo com suas particularidades, perdemos a oportunidade de compreender que diferença é um caminho de mão dupla e que, se para mim, eles são só os “doidinhos”, corro um grande risco de, para eles, ser a “ intolerante”.