Tudo é uma questão de tempo

Gosto de escrever esta coluna sem pressa, no tempo das coisas. Espero que os assuntos venham até mim e não me preocupo com antecedência com que vou falar, sobre o que vou refletir... E é impressionante: sempre há pauta! 

Desta vez não foi diferente. Ao longo da semana estava com alguns assuntos na cabeça que julguei serem pertinentes, mas, de uma hora para outra, tudo mudou. Um novo e mais importante assunto surgiu, e não tive como me desviar dele. 

Talvez você tenha visto pelas redes sociais, por algum programa de TV ou pelo nosso portal de notícias (otempo.com.br) que a jornalista mineira Larissa Carvalho, profissional da Rede Globo, postou, nessa quinta-feira, uma carta emocionante para o filho Théo, pelas redes sociais. Trata-se de uma comemoração pela aprovação no Senado Federal da ampliação do teste do pezinho em recém-nascidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

Na prática, essa ampliação significa que, por meio do exame, será possível detectar um número bem maior de doenças, que passarão de seis para 53. O projeto segue para sanção da Presidência da República, e a nova regra deverá entrar em vigor até 365 dias após a publicação da lei originada do projeto de lei.

Na publicação, Larissa relembra que, na época em que o filho era um bebê, ela, sem informações necessárias, o amamentava e o alimentava com “papinha com ovo, carne, feijão, que mataram seus neurônios, silenciosamente”, e, em consequência da doença não detectada, o menino hoje “não se senta, não anda, não fala. Mas sorri como ninguém”, segundo a mãe. Ao ler o relato e voltando ao início deste texto, me ponho a pensar no tempo e na necessidade dele para o bem caminhar da vida. 

Certas coisas não podem esperar, não dão prazo para a inspiração, acaso, percepção, reuniões, aprovações no Senado... Elas simplesmente ocorrem, e, nós, passivos desse “senhor soberano” chamado “tempo”, vivemos as consequências dos atos que assumimos segundos antes, e assim por diante.

A Larissa não teve tempo de aprender sobre a condição do filho. O Théo não teve tempo de esperar a lei ser aprovada. O Senado aguarda a aprovação do presidente. E a gente aguarda poder comemorar essa nova lei. 

Poderia ter sido diferente? Talvez, mas aqui quero me valer daquela máxima que diz: tudo acontece por alguma razão. A partir de hoje, um exame tão simples – a retirada do sangue do calcanhar do bebê com uma agulha bem fina e as gotinhas colocadas em um papel – vai ser responsável não só por uma ruptura no tempo, mas pela mudança na vida de milhões de pessoas, inclusive da Larissa e do Théo, afinal, pela luta e persistência deles, novas histórias vão ser construídas. É emblemático, representativo e emocionante tudo “coincidir” tão próximo ao Dia das Mães. Parabéns, Larissa e Théo, pela determinação, persistência e coragem em querer mudar o tempo.