Meus pais sempre contam uma história de quando meu irmão mais velho era muito pequeno e os deixaram em uma situação embaraçosa. Estavam todos em uma festa, quando meu irmão, chamando insistentemente meu pai, se colocou em frente a um anão, apontou e perguntou: “o que é isso?”. Não sei ao certo a resposta que meu pai deu naquele momento, pois ele sempre foca em quão sem-graça e desconcertado ficou na hora. Acho que nem ele se lembra mais de como saiu disso.
Fato é que esse caso de família está entre os mais constrangedores que meus pais relatam ter passado quando éramos pequenos, e eles sempre terminam o papo com a frase “criança é complicado, bota a gente em cada uma”. É comum ouvirmos isso de pessoas que têm filhos. Sempre há um relato constrangedor relacionado ao primeiro contato com a diferença. Seja por cor, raça, pessoas com deficiência, gênero, orientação sexual… Mas a verdade é que ainda muitos de nós não estamos preparados para explicá-las aos pequenos ou nem mesmo compreendemos plenamente essa pluralidade.
Mas será que existe uma fórmula certa para abordar esse assunto? Um momento específico para que a explicação ocorra? Eu suponho que não. Mesmo não tendo passado por uma situação assim, acredito que o melhor é abordar o assunto desde sempre, tentar torná-lo habitual, rotineiro e mostrar às crianças que as diferenças são normais, e está tudo bem.
Não acredito que seja necessária uma conversa pontual para, a partir dela, mostrar que o mundo é feito de muitas cores, formatos e crenças. Naturalizar o assunto facilita o processo e evita traumas e constrangimentos. Para todos.
Meu amigo Fabiano de Abreu, que é neurocientista e psicanalista, tem dois filhos e um enteado. Na casa dele as diferentes perguntas surgem o tempo todo, mesmo sobre os assuntos que são habituais e tratados naturalmente. “Quando há dúvidas sobre cor, explico que as pessoas são diferentes e falo das questões de origens, regiões e até da relação com o sol. Sobre pessoas com deficiência, explico que as habilidades podem ser desenvolvidas de diversas maneiras. Se o assunto é orientação sexual, tento deixar claro que temos liberdade mediante às nossas vontades”, conta. “Sempre digo que o preconceito distorce o caráter e revela a falta de conhecimento”, afirma.
Suponho que existam maneiras, além do diálogo franco e aberto, para que a descoberta das diferenças não seja algo marcante: o contato.
Em breve reflexão, pergunto: Quantos de vocês se lembram de, na infância, terem tido amigos com deficiência? De terem visto casais do mesmo sexo se relacionando e não terem estranhado? Quais lugares as pessoas de cores diferentes da sua ocuparam na sua criação?
E ainda provoco: pais e responsáveis, quantas possibilidades vocês dão aos seus filhos e crianças de experimentarem e crescerem com as diferenças?
Que tal aprendermos juntos?!