Spencer, 69 anos de idade, relembra seus grandes momentos no futebol. Começou a carreira no América e depois foi para o juvenil do Cruzeiro. Como a chance de jogar no time da Toca da Raposa na época era remota, esteve emprestado ao Araxá. Quando reivindicava um aumento de salário, o presidente Felício Brandi alegava que ele era reserva de Tostão. Aparecia clube interessado no jogador, mas o dirigente não o negociava. A diretoria do Cruzeiro tinha uma tática: antes de completar 90 dias de atraso, pagava o salário. Antes da famosa Lei Pelé, os direitos do jogador pertenciam aos clubes. E Spencer, com inteligência e habilidade, tomou conhecimento do CBDF (Código Brasileiro Disciplinar de Futebol), o atual CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva). No CBDF tinha uma cláusula que determinava que o atleta se tornaria proprietário dos seus direitos desportivos caso ficasse 90 dias sem receber salário do clube. Spencer então reivindicou no Tribunal de Justiça Desportiva de Minas Gerais a sua liberdade e conseguiu ficar livre. Assim, assinou contrato com o Atlético e formou dupla de ataque com Dario, já que o titular, Lola, fraturou a perna num jogo contra o Santos. Naquela partida, Spencer deu passe para que Dario fizesse o segundo gol da vitória de 2 a 1. Em sua trajetória no Galo, Spencer foi campeão brasileiro de 1971. Ele sofreu a falta contra o São Paulo que Oldair transformou em gol levando o Atlético para a decisão, diante do Botafogo, no Maracanã, quando o Galo venceu por 1 a 0, com gol de Dario.
Brigou com Telê
Spencer ficou por mais um ano no Atlético, mas teve depois um desentendimento com o Mestre Têle Santana. “Ele alegou ao presidente Nelson Campos que eu estava querendo fazer teatro”, conta Spencer. Assim o atacante trocou o Atlético pelo América. Disputou o Brasileiro de 1973 pelo Coelho formando a linha de frente com Pedro Omar, Juca Show e Edson, sob o comando de Orlando Fantoni.
Depois do América, Spencer foi jogar no México, onde ficou por dez anos. Defendeu o Pumas, a Universidad de Guadalajara e o Atlantic, onde teve Levir Culpi como companheiro de clube, além do Toluca. Spencer comenta sobre seus treinadores. “Yustrich eu considero o melhor, mesmo tendo me levado ao barbeiro para cortar o meu cabelo, fazer barba e bigode. Ele entendia que eu estava parecendo um comunista”.
Spencer diz que o título mineiro de 1970 e o brasileiro de 1971 do Atlético contaram com a participação de Yustrich, que deixou a base pronta.
Tem que rezar
Orlando Fantoni era muito religioso, e Spencer não participava da reza para entrar em campo. Assim, era considerado ateu. Trabalhou também sob o comando de Ilton Chaves e Ayrton Moreira. Ele lembra de fatos curiosos e conta um deles. O Cruzeiro foi jogar na Argentina, e, para entrar no país, tinha que preencher uma ficha, e nela estava o espaço para o apelido. O ponteiro Eli Mendes então escreveu “Gambá”. Hoje, o aposentado Spencer trabalha no América, na captação de atletas para o clube.