Thiago Camargo

E a educação?

Situação atual agrava problemas estruturais

Por Thiago Camargo
Publicado em 05 de junho de 2020 | 03:00
 
 
 
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É certo, o país nunca tratou o tema com a importância estratégica observada em outras nações. Avanços importantes aqui e acolá não foram suficientes para tirarmos o país dos últimos lugares no ranking de qualidade da educação. Não se trata de um governo e/ou de um grupo político-partidário. Somos uma nação que parece desprezar a educação. É certo, também, que a gestão da crise em relação à pandemia tem sido um verdadeiro desastre. Não há coordenação, não há liderança nacional, e o país parece um barco à deriva.

Entretanto, mesmo se relevarmos a ausência de compromisso histórico com a educação e a incapacidade política e de gestão que vivenciamos em relação à pandemia, nada é tão comprometedor, triste e impactante no longo prazo do que o que ocorre na área.

Crianças, adolescentes, pais, professores e gestores permanecem com a incerteza do momento que estamos vivendo. Professores exaustos e frustrados; secretários de Educação procurando alternativas na gestão do sistema e preocupados com os altos custos decorrentes do retorno; escolas privadas com risco de falência; alunos, sobretudo os mais novos e os mais pobres, perdendo ações pedagógicas e estímulos essenciais. A desigualdade exacerba e mostra uma de suas faces mais cruéis, ao impor um abismo intransponível, decorrente da condição socioeconômica das famílias, com impacto direto na vida e no futuro das crianças.

Política educacional

Nossa omissão não é nova, mas a realidade nunca foi tão dramática – e se agrava com a atuação do Ministério da Educação. A ausência completa de uma política educacional e as ações pontuais desconexas são o retrato da mediocridade. Infelizmente, o atual ministro está concentrado numa cruzada ideológica, quando não está ocupado em despejar impropérios contra o STF e outras instituições.

Não há uma política de apoio concreta aos sistemas educacionais para o enfrentamento dos efeitos da pandemia. Abertura ou não? Quais protocolos? Qual idade? Como acolher crianças e famílias no retorno às aulas? Quem financia os custos? O que fazer com as escolas privadas? Como apoiá-las? Novo Fundeb? Enem? Como atenuar os problemas, envolver a comunidade escolar, as empresas e os governos em busca de soluções, alternativas e saltos de qualidade? A pandemia e seus efeitos são simplesmente ignorados pelo maior responsável pela área.

Todos pela Educação

A educação está completamente sem rumo. Especialistas da área estão desesperados. A situação é tão bizarra que levou Priscila Cruz, presidente do Todos pela Educação, instituição referência na área, a dizer em recente entrevista que “as palavras ‘absurdo’, ‘indecente’ e ‘injusto’ não dão conta do que a gente presencia no Brasil”.

A pandemia e o MEC atual agravam de forma assustadora os problemas estruturais na área educacional. A novidade é a ausência de preparo, compostura, programas e políticas. Um total desprezo pela educação. Com quase nenhuma reação concreta da sociedade, dos políticos e das instituições, permaneceremos à deriva. Até quando hipotecaremos o futuro?

 

Thiago Camargo é advogado e sócio do escritório Marcelo Guimarães Advogados e da Sinapse Consultoria e Projetos

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