Apesar dos progressos e das excelentes práticas corporativas existentes, poucas são as empresas que colocam as questões relacionadas à sustentabilidade socioambiental e ao impacto de suas atividades na qualidade de vida das comunidades como centro de sua gestão e estratégia de negócios.
Ainda hoje, empresas com alto grau de impacto negativo para o meio ambiente e sem qualquer prática para monitorar e minorar as externalidades negativas de suas atividades atuam como se fossem companhias altamente sustentáveis. A prática de apropriação indevida de reputação ambiental, sem qualquer medida efetiva de sustentabilidade, ganhou até nome: greenwashing.
O impacto de uma experiência tão intensa e perturbadora para todos como a Covid-19 pode servir de catalisador para mudanças de paradigmas nas empresas, dando maior legitimidade interna e externa às atividades de responsabilidade socioambiental e governança. Não estou falando aqui apenas do notável aumento das contribuições financeiras para minorar os efeitos da pandemia, mas da consolidação de uma transformação cultural e organizacional profunda na visão dos executivos e dos diversos stakeholders com vistas ao que pode se chamar de “lucro com propósito”.
Não se trata de uma visão romântica a respeito do capitalismo e/ou das organizações, mas da construção e da consolidação de uma nova visão empresarial dos negócios, baseada na imprescindibilidade de mensurar os impactos sociais, ambientais e éticos, como em qualquer atividade humana, e colocar isso no centro das decisões estratégicas e operacionais das empresas.
O recente assassinato de um cliente nas dependências de uma rede mundial de supermercados, por um de seus colaboradores, mostra a importância de uma boa gestão de risco, de mecanismos robustos de compliance e de uma cultura organizacional voltada para a proteção da vida e a tolerância.
Não restam dúvidas do enorme desafio. A boa notícia é que os consumidores estão cada vez mais atentos ao impacto das atividades das empresas na vida das pessoas e do meio ambiente. Mesmo para aqueles que colocam o lucro como único propósito da companhia, torna-se imperioso pensar seus negócios de uma forma mais global e comprometida com a sustentabilidade, sob o risco de custos enormes na reputação e prejuízos reais para seus acionistas.