TOSTÃO

Altitude não é psicológico

Redação O Tempo


Publicado em 20 de abril de 2016 | 03:00
 
 
 
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Uma das dificuldades do ser humano, no futebol e em toda a sociedade, é a incapacidade da maioria das pessoas de conviver bem com o que é diferente, de escutar e aprender com o outro, e de analisar os fatos como um observador neutro, isento, sem pré-conceitos. Somos todos parciais, uns mais que os outros.

O São Paulo, após levar um baile do Audax, dias depois de ganhar e de mostrar um ótimo jogo coletivo contra o River Plate, é, amanhã, uma incógnita, nas alturas de La Paz, mesmo precisando apenas de um empate. Contra o Audax, o São Paulo marcou a saída de bola, muitas vezes não conseguiu recuperá-la e deixou um enorme espaço no meio-campo, já que os zagueiros atuavam muito atrás, colados à grande área. Esse é um dos problemas dos times brasileiros. Os zagueiros só querem jogar na sobra e só querem dar chutões.

A maioria das equipes brasileiras tem grandes dificuldades de trocar passes desde a defesa. O pequeno Audax é exceção. É gostoso ver o time jogar. Porém, com frequência, exagera e perde a bola no próprio campo. Diferentemente do goleiro do Audax, Neuer, do Bayern, se destaca por jogar bem fora da área, na cobertura dos defensores. Por ter pouca habilidade e por precaução, raramente troca passes perto do gol, quando a marcação é muito próxima.

O Corinthians é o time com melhor conjunto do futebol brasileiro porque faz as coisas certas no momento certo. Não exagera na troca de passes perto de sua área nem dá chutões. Alterna muito bem a marcação por pressão com o recuo para contra-atacar. Os jogadores se aproximam para trocar passes e fazer triangulações, mas não dispensam as jogadas em velocidade para chegar ao gol. O Corinthians é ousado sem ser prepotente.

Muitos criticaram o São Paulo por escalar os titulares contra o Audax e por não ter viajado uma semana antes para a Bolívia, como fez o Grêmio, no Equador. São situações bem diferentes. Quito é muito mais baixo e não tem os problemas da altitude de La Paz. Especialistas falam que chegar a La Paz poucas horas do jogo, como vai fazer o São Paulo, é melhor que ir uma semana antes, já que os piores efeitos da altitude começam a surgir após vários dias. Além disso, são necessários 21 dias para haver uma completa adaptação.

Em 1971, joguei pelo Cruzeiro, contra o Strongest, em La Paz. Na véspera, não conseguia dormir, por causa de uma intensa dor de cabeça, que nunca tinha tido. Andava pelo corredor do hotel, e a dor sumia. O gerente me deu um chá de coca, a dor desapareceu, e dormi bem. Se houvesse exame antidoping, seria flagrado, como aconteceu com Zetti, na seleção brasileira. A CBF provou que ele tinha tomado uma xícara de chá, e o goleiro foi absolvido.

O massagista Nocaute Jack, muito forte e conhecido pelas lutas de que participava na televisão, quis mostrar aos jogadores que a grande altitude era uma questão psicológica. Ele colocou um enorme saco de material esportivo nas costas, como fazia sempre, subiu as escadas e, quando chegou ao segundo andar, desmaiou.

Durante a partida do Cruzeiro, alguns jogadores saíram do gramado para receber oxigênio. Decidimos trocar muitos passes curtos e ficar com a bola. Ganhamos por 2 a 1.

 
Clássico

Impressionou-me na vitória do América sobre o Cruzeiro o excelente posicionamento defensivo do Coelho, quando o time perdia a bola. Marcava muito bem e contra-atacava. Não se pode confundir jogar em contra-ataque com retranca e com jogar por uma bola. O América jogou por várias bolas e poderia até ter feito mais gols. Quando Deivid colocou Élber pela direita, Givanildo, imediatamente, reforçou a marcação pela lado, e Élber foi atuar pelo centro, onde não sabe jogar. Não compreendi a entrada de Alano, pelo meio, como centroavante. Sua única virtude é a velocidade para defender e atacar pelos lados.

Na outra semifinal, o Atlético, no empate com a URT, em Patos de Minas, ficou ainda mais perto de disputar a final.

 

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